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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


FERREIRA GULLAR

FERREIRA GULLAR

Was born in São Luis do Maranhão in 1930, and He hás lived in Rio de Janeiro since 1951. Poet, journalist and art critic.

 TEXTOS EM PORTUGUÊS  / TEXTS IN ENGLISH

O TRABALHO DAS NUVENS

 

Esta varanda fica

à margem

da tarde. Onde nuvens trabalham.

A cadeira não é tão seca

e lúcida, como

o coração.

 

Só à margem da tarde

é que se conhece

a tarde: que são as

folhas de verde e vento, e

o cacarejar da galinha e as

casas sob um céu: isso. diante

de olhos.

 

E os frutos?

e também os

frutos. Cujo crescer altera

a verdade e a cor

dos céus. Sim, os frutos

que não comeremos, também

fazem a tarde.

                             (a vossa

tarde, de que estou à margem)

 

Há, porém, a tarde

do fruto. Essa

não roubaremos:

                             tarde

em que ele se propõe à gloria de

não mais ser fruto, sendo-o

mais: de esplender, não como astro, mas

como fruto que esplende.

E a tarde futura onde ele

arderá como um facho

efêmero!

Em verdade, é desconcertante para

os homens o

trabalho das nuvens.
Elas não trabalham

acima das cidades: quando

há nuvens não há

cidades: as nuvens ignoram

se deslizam por sobre

nossa cabeça: nós é que sabemos que

deslizamos sob elas: as

nuvens cintilam, mas não é para

o coração dos homens.

 

A tarde é

as folhas esperarem amarelecer

e nós o observarmos.

E o mais é o pássaro branco que

voa — e que só porque voa e o vemos,

voa para vermos. O pássaro que é

branco,

não porque ele o queira nem

porque o neccessitemos: o pás-

saro que é branco

porque é branco.

 

Que te resta, pois, senãu

aceitar?

            Por ti e pelo

pássaro pássaro.

 

===================================================================

 

CLOUDS' WORK

          Translated by Paul Blackburn

 

This verandah is fixed

at the edge

of the afternoon. Where clouds work.

 

The chair is nowhere as dry

& lucid as

the heart.

 

Only at the edge

of the afternoon one knows the

afternoon: green leaves & wind, &

chickens cluck, the

houses under the sky: what's

in front of the eye.

 

And fruits?

& also the

fruits. They grow & modify

the truth

the color

of the skies. Yes, the fruits

we'11 never eat, they too'll

make the afternoon.

          (your afternoon

wherein I am put aside)

 

There's still, however, the after-

noon of the fruit. This

we shan't steal:

 

afternoon

when he makes up his mind

          to be. what glory. no more a fruit,

          being it even more: shining, no star but

          a fruit that shines. & the next afternoon


Clouds' work. in fact, it's

embarrassing for men. Clouds

don't work over cities: when

there are clouds, there aren't

cities: the clouds don't know

they slide along above

our heads: it's we who know we

slide under them: the clouds

shine,

but not for men's hearts.

The afternoon

is leaves waiting to turn

& we watch them.
The whole rest of it is that bird flying

— and just because he flies & we see him, he

flies so we can see him. The bird, that
 white,

not because it wants to be, or because

we need it, white: the bird

that's white

because it's white.

 

          Accept it — what

          choices have you left, you

                   or the bird bird?

 

Extraídos de
AN ANTHOLOGY OF TWENTIETH-CENTURY BRAZILIAN POETRY. Sponsored by the Academy of American Poets.  Middletown, Conn.: Wesleyan University Press, 1972. 

==============================================================

Translated by Richard Zenith

 

Richard Zenith's versions of poems by Ferreira Gullar have appeared in

Brazilian Poetry 1950-1980 (Wesleyan University Press, 19S3), APR, The

American Voice and elsewhere.

 

 

Happiness

 

Suffering is the divine way

to nothing.

It won't make a halo

around your head, it won't

illuminate the smallest

square of your dark flesh,

it won't even illuminate

the remembrance or illusion

at happiness.

 

you suffer, a wounded dog

suffers, an insect poisoned

by blackflag suffers.

Is your pain superior

to that of the cat you saw

with the broken back

limping along in the gutter

howling and unable to die?

 

         Justice is moral, injustice

indifferent. Pain

will guarantee you equality

with rats and roaches that also

glimpse from inside their drains

the sun

and in their repulsive bodies

dragging through faeces             

                            wish to be happy.

 

 

Disaster

 

Some wish

         their poem to be

         marble

or crystal. I wanted

mine to be a peach

         or pear

         or banana rotting on a plate

preferably

on a verandah

where people talk and work

and can hear

         the noise from the street.

 

         My only ambition

         is the rotten poem

 

the pulp wounded

         exposed

the voice deep within

                            festering
         on the plate

the liquor the chemistry

         of syllables

                            the decaying corpse

         of metaphors

         a poem

         like a disaster in progress.

 

 

Lesson

 

Even as you once were open to happiness

         open up now to suffering

         its fruit

         and ardent counterpart.

 

Even as

         you went to the heart

                                      of happiness

         lost yourself in it

                                      and in that loss
                                      found yourself

now let sorrow do its work

without lies

without excuses

                   evaporating in your flesh

                   every illusion

for life only consumes

what sustains it.

 

 

Exile

 

In a house in Ipanema surrounded by trees and birds

         in the hot shade of afternoon

                   among familiar furniture

         in the hot shade of afternoon

                   among trees and birds

         among familiar odours

         they live their lives

         they live my life

 

in the shade of a hot afternoon

in the shadow of a hot afternoon

 

 

 

From:  MODERN POETRY IN TRANSLATION.  New Series / No. 6 / Winter 1994-95. Special Feature: Modern Poetry from Brazil.   Published by King´s College London.
University of London.  Edited by Daniel Weissbort

***

Coisas da Terra 

Todas as coisas de que falo estão na cidade
entre o céu e a terra.
São todas elas coisas perecíveis
e eternas como teu riso
a palavra solidária
minha mão aberta
ou este esquecido cheiro de cabelo
que volta
e acende sua flama inesperada
no coração de maio.

Todas as coisas de que falo são de carne
como o vento e o salário.
Mortalmente inseridas no tempo,
estão dispersas como o ar
no mercado, nas oficinas,
nas ruas, nos hotéis de viagem.

São coisas, todas elas,
cotidianas, como bocas
e mãos, sonhos, greves,
denúncias,
acidentes do trabalho e do amor. Coisas,
de que falam os jornais
às vezes tão rudes
às vezes tão escuras
que mesmo a poesia as ilumina com dificuldade.

Mas é nelas que te vejo pulsando,
mundo novo,
ainda em estado de soluços e esperança.

 

 

Agosto 1964

Entre as lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques.
viajo,
num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio
fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja.  Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injustos,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,.
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato

um poema
uma bandeira



Bananas Podres

Como um relógio de ouro o podre
oculto nas frutas
sobre o balcão (ainda mel
dentro da casca
na carne que se faz água)_era
ainda ouro
o turvo açúcar
vindo do chão
e agora
as bananas negras
como bolsas moles
onde pousa uma abelha
e gira
e gira ponteiro no universo dourado
parte mínima da tarde)
em abril
enquanto vivemos.

 

 

Subersiva

A poesia
quando chega
não respeita nada
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
de qualquer de seus abismos
desconhece o Estado e a Sociedade Civil
desrespeita o Código de Águas
relincha
como puta
nova
em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
reconsidera beija
nos olhos os que ganham mal
embala no colo
os que têm sede de felicidade
e de justiça

E promete incendiar o país


***

 

Translated by William Jay Smith

 

Things of the Earth

All the things I speak of lie in the city
between heaven and earths.
All are things perishable
and eternal like your laughter
words o allegiance
my open hand
or the forgotten smell of hair
that returns
and kindles a sudden flame
in the hear of May.

All the things I speak of are of the flesh
like summer and salary..
Mortally inserted into time
dispersed like air
in the marketplace, in offices,
streets an hostelries.

They are things, all of them,
quotidian things, like mouths
and hands, dreams, strikes,
denunciations —


 

accidents of works or love. Things
talked about in the newspapers
at times so crude
all times so dark
that even poetry illuminates them with difficulty.

But in them I see you, new world,
pulsating,
still sobbing, still hopeful

 

 

August 1964

Past flowershops and shoestores, bars,
markets, boutiques,
I ride
in a Ferro-Leblon bus.
I´m returning from work, late at night,
tired of lies.

The buss jerks forward. Farewell, Rimbaud,
lilac clock, concretism,
neoconcretism, fictions of youth, farewell,
for I must pay cash
to buy life from the world´s propietors.
Verse is suffocating under the weight of taxes,
and poetry is subject to a secret-police inquiry.

I say farewell to illusion
but not to the world, not to life,
my redoubt and my kingdom.
From unjust wages,
from injust punishment,
from humiliation, from torture,
from terror,
we take something and from it construct an artifact

a poem
a banner



Rotten Bananas

Like a gold watch the blight
hidden in the fruits
on the counter (still honey
under the skin
in the pulp which will turn to water) was
still golden
muddy sugar
from de ground
and now
look: black bananas
like soft bags
where a bee hovers
and spins
a watch hand spinning in the golden universe

in April
while we live our lives.


Subversive

Poetry
when she comes
respects nothing.
Neither father nor mother.
When she struggles
up from one of her abysses
she ignores Society and the State
disdains Water Regulations
hee-haws

like a young
whore
in front of the Palace of Dawn*

And only later
does she reconsider kisses
the eyes of those who earn little
gathers into her arms
those who thirst for happiness
and justice

And promises to se the country on tire

*
the presidential palace in Brasília. 

 

 

BRAZILIAN POETRY 1950-1980.  Edited by Emanuel Brasil and William Jay Smith.            Middletown, Connecticut: Wesleyan University Press, 1983.   187 p.                    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

*

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Página ampliada e republicada em janeiro de 2022

 

 


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