Fonte: www.paraty.com
CÉSAR GARCIA LIMA
Graduado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), sou Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a dissertação “A notícia e o poema — A reescrita jornalística na poesia narrativa de Carlos Drummond de Andrade”. Atualmente, atuo como professor do curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá (UNESA), em Niterói, e como professor convidado do curso de Especialização em Jornalismo Cultural da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Desenvolvo oficinas literárias, roteiros para TV e documentários digitais. Na gaveta, tenho dois novos livros organizados, um de poemas e outro de prosa. Fonte: http://www.cesargarcialima.com/autor
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL / TEXT IN ENGLISH
MANADA
Há um boi na maioria dos ventres desta sala.
Há um boi que ruminou e balançou o rabo
pela incômoda visita de uma mosca varejeira.
Há um boi que piscou, como se entendesse tudo
e perdoasse por antecipação.
Há um boi superior, que se liquefez em passado
e nos legou a temporalidade do sangue.
MANADA
Hay un buey en la mayoría de los vientres de esta sala.
Hay un buey que rumió y balanceó el rabo
por la incómoda visita de una moscarda.
Hay un buey que parpadeó, como si entendiese todo
y perdonase anticipadamente.
Hay un buey superior, que se deshizo en pasado
y nos lego la temporalidad de la sangre.
HERD
There is an ox in mosto f the wombs in this room.
There is ano x tht chewed its cud and switched its tail
at a blowfly´s irksome visit.
There is ano x that blinked, as if it had understood everything,
and padoned it all in advance.
There is a superior ox, that melted into past
and bequeathed us blood´s temporality.
Fuente: HELICÓPTERO. V. 3 – 4. 2000
LIMA, César García. Águas desnecessárias. São Paulo: Nankin Editorial, 1997. 64 p. (Coleção Janela do Caos : Poesia brasileira) 12x18 cm. ISBN 85-86372-02-X
A SERPENTE DE PEDRA
Impossível roubar as curvas da muralha da China.
É um conforto saber que o rasgo fino dos olhos
aprecia a textura impiedosa da caça.
Na verdade, eles pouco sabem sobre a cor.
Construída em horas tristes
dias incandescentes
a muralha agrega sementes
trazidas pelos pássaros
em tempos que o calendário não registra.
Há o consolo azul do anis
lembrando estrelas
e uma estrada sempre reta
que endireita a muralha.
Mas a muralha não é assim.
Segue os contornos imprecisos da garganta indócil
dos habitantes cegos de suas redondezas.
Nem isso consegue fazer esquecer o sabor
das especiarias tiradas da dispensa dos deuses.
*
às onze
horas se abrem
bocas-de-lobo
o coração
bem-me-quer
mal-me
o sol não pára
de
Escambo
encontrei sangue na nuca perfeita da deusa
e chorei meses por constatar a mortalidade de sua paixão.
ela fez maçãs com seus coágulos
embrulhadas na luz quebradiça de seus cabelos loiros,
mas não tive escolha senão vendê-las
e tirar delas o meu sustento.
CONHECER
de repente
uma sabedoria ignorante das coisas
palavras percorrem nervos
na ausência, o sangue toma ar
de repente
sentir tornou-se fato
PERNOITE
Sob o sol
se aclimata a pele,
a sede tem marítimos goles.
Resistir é teima sem recompensa
— a distância pesada nos ombros.
Na ausência da lua,
a noite empapa o tergal:
as baratas estão a salvo
da indelicadeza dos cactos.
Um pressentimento longo e lento
se confunde com o hálito do fogo.
O tempo se atrasa
ao cruzar o jirau.
LIMA, César García. Este livro não é um objeto. Poemas-postais. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2004. Ilus. 11,6x18,5 cm.
Página publicada em novembro de 2008; ampliada e republicada em junho de 2014.
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