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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CÉSAR GARCIA LIMA

Fonte: www.paraty.com 

CÉSAR GARCIA LIMA

 

Graduado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), sou Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a dissertação “A notícia e o poema — A reescrita jornalística na poesia narrativa de Carlos Drummond de Andrade”. Atualmente, atuo como professor do curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá (UNESA), em Niterói, e como professor convidado do curso de Especialização em Jornalismo Cultural da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Desenvolvo oficinas literárias, roteiros para TV e documentários digitais. Na gaveta, tenho dois novos livros organizados, um de poemas e outro de prosa. Fonte: http://www.cesargarcialima.com/autor 

TEXTO EM PORTUGUÊS TEXTO EN ESPAÑOL TEXT IN ENGLISH

 

MANADA

 

Há um boi na maioria dos ventres desta sala.

Há um boi que ruminou e balançou o rabo

pela incômoda visita de uma mosca varejeira.

Há um boi que piscou, como se entendesse tudo

e perdoasse por antecipação.

Há um boi superior, que se liquefez em passado

e nos legou a temporalidade do sangue.

 

MANADA

Hay un buey en la mayoría de los vientres de esta sala.
Hay un buey que rumió y balanceó el rabo
por la incómoda visita de una moscarda.
Hay un buey que parpadeó, como si entendiese todo
y perdonase anticipadamente.
Hay un buey superior, que se deshizo en pasado
y nos lego la temporalidad de la sangre.

HERD

There is an ox in mosto f the wombs in this room.
There is ano x tht chewed its cud and switched its tail
at a blowfly´s irksome visit.
There is ano x that blinked, as if it had understood everything,
and padoned it all in advance.
There is a superior ox, that melted into past
and bequeathed us blood´s temporality.

 

 

Fuente: HELICÓPTERO. V. 3 – 4. 2000

 

 

LIMA, César García.  Águas desnecessárias.  São Paulo: Nankin Editorial, 1997.  64 p.           (Coleção Janela do Caos : Poesia brasileira)   12x18 cm.  ISBN 85-86372-02-X 

 

 

A SERPENTE DE PEDRA

 

Impossível roubar as curvas da muralha da China.

É um conforto saber que o rasgo fino dos olhos

aprecia a textura impiedosa da caça.

Na verdade, eles pouco sabem sobre a cor.

 

Construída em horas tristes

                        dias incandescentes

a muralha agrega sementes

trazidas pelos pássaros

em tempos que o calendário não registra.

 

Há o consolo azul do anis

lembrando estrelas

e uma estrada sempre reta

que endireita a muralha.

 

Mas a muralha não é assim.

Segue os contornos imprecisos da garganta indócil

dos habitantes cegos de suas redondezas.

 

Nem isso consegue fazer esquecer o sabor

das especiarias tiradas da dispensa dos deuses.

 

*

 

às onze

horas se abrem

bocas-de-lobo

o coração

bem-me-quer

mal-me

o sol não pára

de

 

Escambo

 

encontrei sangue na nuca perfeita da deusa
   
e chorei meses por constatar a mortalidade de sua paixão.

      ela fez maçãs com seus coágulos
   
embrulhadas na luz quebradiça de seus cabelos loiros,
      
mas não tive escolha senão vendê-las
          
e tirar delas o meu sustento.

 

 

CONHECER

 

de repente

uma sabedoria ignorante das coisas

 

palavras percorrem nervos
na ausência, o sangue toma ar

 

de repente

sentir tornou-se fato

 

 

 

PERNOITE

 

Sob o sol

se aclimata a pele,

a sede tem marítimos goles.

 

Resistir é teima sem recompensa

— a distância pesada nos ombros.

 

Na ausência da lua,
a noite empapa o tergal:
as baratas estão a salvo
da indelicadeza dos cactos.

 

Um pressentimento longo e lento

se confunde com o hálito do fogo.

 

O tempo se atrasa
ao cruzar o jirau.

 

 

 LIMA, César García.  Este livro não é um objeto.  Poemas-postais.  Rio de Janeiro:       Edição          do Autor, 2004.  Ilus.  11,6x18,5 cm. 

 




 

 

 

 

 

Página publicada em novembro de 2008; ampliada e republicada em junho de 2014.

 




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