ASTRID CABRAL
Astrid Cabral was born on Sept. 26th, 1936, in Manaus, the strangely modern capital city of the Amazon , with the its first-class European opera house and a weave of waterways, islands, and jungle around.
Cage is Astrid Cabral´s return to her begginnings. She herself suggests that “the core of the book is the closeness I maintain with the animal world. I put myself on their level, outside, I still am aware that there is something wild or savage in us humans, that we too are predators, and thus I restore our fellowship.”
De
CAGE
POETRY BY ASTRID CABRAL
Bilingual Portuguese / English
Translated by Alexis Levitin
Texas, TX: Host Publication, 2008
ISBN978-0-924047-44-2
BICHO-DE-SETE-CABEÇAS
À medida que envelheço
as sete cabeças do bicho
corto. Enfim o reconheço
íntimo de mim, meu próximo.
À medida que envelheço
conquisto-lhe o segredo.
Vejo a morte iniciação
à viagem pelo avesso.
À medida que envelheço
digo: o bicho é meu amigo.
Não, não há porque maldar
envenenando o sossego.
À medida que envelheço
sinto-me remanescente
num deserto onde tropeço
por entre sombras de ausentes.
À medida que envelheço
aprendo a perder o medo.
Todo bicho fica meigo.
E só botar no colo.
SEVEN-HEADED BEAST
The more I age
the more heads I snip from the seven-
headed beast. And then I recognize him,
my intimate, my neighbor.
The more I age
the more I penetrate his secret.
I see death as an entrance
to a journey in reverse.
The more I age
the more I say: the beast is my friend.
No, there is no reason to curse,
poisoning this peacefulness.
The more I age
the more I feel myself a residue
in a desert where I flounder
among shadows of those absent.
The more I age
the more I learn to lose my fear.
All beasts grow tender.
Just take it to your breast.
O BOTO NO CORPO
Corre no chão do corpo um rio escuro
de turvas águas e desejos fundos
linfa ancestral entre pêlos e apelos.
Nela, um boto prestes ao bote habita
e investe para que outros rios se gerem
e a vida não se aborte e eterna jorre.
RIVER DOLPHIN IN THE BODY
It flows in the depths of the body, a dark river
of muddied waters and deep desires
ancestral lymph midst furriness and urgency.
In it dwells a river dolphin, ready for the leap,
and it attacks so other rivers may be spawned
and life may not abort, but gush, gush forth forever.
VIDA VENCENDO RUÍNAS
Uma serpente se enrodilha
entre relíquias ao relento:
fustes cortados em tambor
folhas de acanto tangidas
de vento gravado na pedra.
O mesmo que ora me fustiga
enquanto transpasso arcadas
e transito em antigas sacras
naves de bizantina lavra.
Na basílica erguida em planta
de cruz, habita a serpente
a rastejar vigilante entre
secas pias pias batismais
e santos despojos jogados.
Ninguém senão ela é vida
luzindo sua chama breve.
No ar não mais bóiam mirra
incenso orações ou cânticos.
No ar tudo o que existe além
do vento é a mensagem triste
do nada rondando o homem.
LIFE AMONG THE RUINS
A serpent curled
among some crumbled ruins in the open air:
columns cut like cylinders of drums
acanthus leaves carved in stone
and driven by the wind.
The very one now whipping me
as I pass along through arches
and make my way through ancient sacred
naves of Byzantine workmanship.
In the basilica, its blueprint based
upon the cross, dwells the serpent
crawling vigilant among
dry baptismal sacred founts
and broken scattered holy vestiges.
She alone is iife
gleaming with its brief flame.
In the air myrrh incense prayers
canticles no longer float.
In the air all that exists beside
the wind is the sad message
of the nothingness surrounding man.
LAGARTIXA
Bendita a manhã
da infância quando
me descobri
irmã da lagartixa
equilibrista.
Na parede da sala
ela bem à vontade
que nem euzinha
malabarista
na costa do planeta.
GECKO
Blessed be the morning
of childhood when
I found myself
sister to the gecko
acrobat.
On the wall ofthe room
utterly at ease
just like me
tumbler
on the edge of the planet.
PENAS
Sinto pena
vendo efêmeras
formigas correndo
trôpegas na terra
e céleres colibris
sugando ávidos
flores provisórias
Lembro matas:
castanheiras seculares
torres nas alturas
dos ares.
Lembro rios:
quinhentonas tartarugas
quase eternas
nas águas.
Castanheiras tartarugas
teriam pena de mim?
(eu formiga, eu colibri)
PITY
I feel pity
watching ephemeral
ants running
stumbling along the ground
and swift hummingbirds
eagerly sucking
transitory flowers
And I remember forests:
ancient chestnut trees
towering to
the highest winds.
I remember rivers:
turtles centuries old
almost eternal
in their waters.
Chestnut trees and turtles
do they feel pity for me?
(I the ant, I the hummingbird)
NEW BRAZILIAN POEMS. A bilingual anthology after Elizabeth Bishop.
Translated & edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer. Rio de Janeiro:
Ibis Libris, 2019. 128 p. 16 x 23 cm. ISBN 978-85-7823-326-6
Includes 60 poets in Portuguese and English Ex. bibl. Antonio Miranda
Lagartixa
Bendita a manhã
da infância quando
me descobri
irmã da lagartixa
equilibrista.
Na parede da sala
ela bem à vontade
que nem euzinha
malabarista
nas costas do planeta.
Gecko
Blessed was the morning
of childhood When
I found myself
a sister of the acrobat
gecko.
At complete ease
on the wall of the room
just like a little me!
a tumbler
on the edge of the planet.
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Página ampliada e republicada em abril de 2022
Página publicada em janeiro de 2009, graças ao envio generoso de um exemplar da obra pela autora, amiga da confraria dos poetas vivos. A. M.
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