ANGELA CAMPOS
Born in Rio de Janeiro on January 1st, 1960,Angela de Campos completed her courses m literary studies at the Federal University of Rio de Janeiro (AFRJ) and at the Catholic University of Rio de laneiro. Married to a diplomat, she has lived in several cities, among them Mexico City and Madrid.
BOOK OF POETRY: Feixe de Lontras (Rio de Janeiro: Livraria Sette Letras, 1996)
Angela de Campos nació en Rio de Janeiro en 1960. Estudió Letras. Publicó Feixe de Lontras (1996). Actualmente reside en Madrid.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTS IN ENGLISH / TEXTOS EN ESPAÑOL
A corcova calva do camelo
me traz o desejo
de incendiar as vogais
e ruminar as cinzas arenosas.
Como a alma acalma o coração?
Talvez com dromedários.
(from Peixe de Lontras, 1996)
The cames bald hump
wakes my desire
to burn the vowels
and chew the gritty ashes.
How does the soul soothe the heart?
Maybe with dromedaries.
—Translated from the Portuguese by Michael Palmer
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A tarde se estira
no dorso de um tigre
veloz—
o duro mel dos olhos
encorpa em camélias
súbitas esquinas sem beijos,—
todos os minutos se espreitam.
(from Feixe de Lontras, 1996)
Afternoon stretches out
on the back of a swift
tiger—
the hard honey ofthe eyes
thickens into camellias
sudden corners without kisses,—
all the minutes spy on each other.
—Translated from the Portuguese by Michael Palmer
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0 tempo soluça no relógio
as rugas horizontais
que não tatuam meu rosto.
Ponteiros
agulhas invisíveis
injetam o ritmo
que infecta o dia.
(from Feixe de Lontras, 1996)
Time hiccups from the clock
the horizontal wrinkles
that don't tattoo my face
Invisible needles
its hands
inject the rhythm
that infects the day
—Translatedfrom the Portuguese by Michael Palmer
Seleção de poemas publicados originalmente em:/ Poems from:
NOTHING THE SUN COULD NOT EXPLAIN: 20 CONTEMPORARY BRAZILIAN POETS, edited by Régis Bonvicino, Michael Palmer and Nelson Ascher. In> THE PIPE – ANTHOLOGY OF WORLD POETRY OF THE 20TH CENTURY. Vol. 3. Los Angels, USA: Green Integer, 2003.
Edição com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do Consulado Geral do Brasil em San Francisco, California, USA,
Página publicada em novembro de 2009
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ANGELA DE CAMPOS
Angela de Campos nació en Rio de Janeiro en 1960. Estudió Letras. Publicó Feixe de Lontras (1996). Actualmente reside en Madrid.
[Traducciones de R.J., revisadas por A.d.C.]
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTS IN ENGLISH / TEXTOS EN ESPAÑOL
Lume
De lírios não falo,
talvez umaforma de suor
que em mechas pálidas
apanha um feixe de lontras
lavadas de luz
sal e mão,
o espelho feito pedra
escama em silêncio
e esguelha intercalado
o espaço de um momento
em que cato o anjo coxo
vibrando no vôo
do fósforo decapitado.
Lumbre
De lirios no hablo,
tal vez una forma de sudor
que en mechas pálidas
apaña un haz de nutrias
lavadas de luz
sal y mano,
el espejo hecho piedra
escama en silencio
e inclina intercalado
el espacio de un momento
en que cato al anjo cojo
vibrando en el vuelo
del fósforo decapitado.
A tarde se estira
no dorso de um tigre
veloz –
o duro mel dos olhos
encorpa en camélias
súbitas esquinas sem beijos –
todos os minutos se espreitam.
La tarde se estira
en el dorso de un tigre
veloz –
la dura miel de los ojos
encarna en camélias
súbitas esquinas sin besos –
todos los minutos se acechan,
O olho da rua
entra pela janela
embaralha feixes e
pestaneja na parede.
Meu menino dos olhos
brilha.
A pestana que cai
é o desejo que voa
El ojo de la calle
entra por la ventana
baraja haces y
pestañea en la pared.
Mi niño de los ojos
brilha
La pestaña que cae
es el deseo que vuela.
A letra líquida
o húmus da palavra.
.
palavras
são dentes e cabelos
.
poemas
têm pés e mão
.
à margem
a mão
coça os pés
da página
La letra líquida
el húmus de la palabra
.
palabras
son dientes y cabellos
.
poemas
tiene pies y mano
.
al margen
la mano
rasca los pies
de la página
Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas. Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil. Ex. bibl. Antonio Miranda
O tempo soluça no relógio
as rugas horizontais
que não tatuam meu rosto.
Ponteiros
agulhas invisíveis
injetam o ritmo
que infecta o dia.
El tiempo solloza en el reloj
las arrugas horizontales
que no tatúan mi rostro.
Manecillas
agujas invisibles
inyectan el ritmo
que infecta el día.
(De Feixe de lontras, 1996)
*
Congestionam-se cores
carniça dos sentidos
eixos que dobram e badalam
ouvidos—
vapores
debruçados nas janelas—
a tarde chia
hipóteses patéticas
no lapso das persianas
ergue-se um patamar
de espantos pontudos
Se congestionan colores
carnaza de los sentidos
ejes que doblan y badajean
oídos,
vapores
assomados en las ventanas—
la tarde chilla
hipótesis patéticas
en el lapso de las persianas
se levanta un rellano
de espantos pontiagudos
(De Feixe de lontras, 1996)
*
A língua manchada de letras
caduca
deixa escorrer a saliva
sangue e signos
à mingua.
A vida velha
só sobrevive esquecida
La lengua manchada de letras
caduca
deja escurrir la saliva
sangre y signos
minguando.
La vieja vida
sólo sobrevive olvidada
(De Feixe de lontras, 1996)
*
O prazer de caminhar os dias
com a noite—
sem óculos, nem relógio—
fronteira.
(Na ausência
a concretude da palavra pérola
como a razão da concha.)
Grilos dobrados criquilam
reboque do céu que aninha
e circular movimenta imóvel
a imagem da semente.
Entreabro a pálpebra
e recrio o ar que respiro.
El placer de caminhar los días
con la noche—
sin gafas, ni reloj—
frontera.
(En la ausencia
la concreción de la palabra perla
como la razón de la concha.)
Grillos doblados criquean
remolque del cielo que acoge
y circular mueve inmóvil
la imagen de la simiente.
Entreabro el párpado
y recreo el aire que respiro.
(De Feixe de lontras, 1996)
Página ampliada e republicada em dezembro de 2018 |