POESIA INFANTIL / POESIA INFANTO-JUVENIL
Coordenação de LILIANE BERNARDES
OLAVO BILAC
Ilustração do GUITO
http://desenhistaguito.zip.net
Ótimo, não é mesmo? Visitem o autor...
A boneca
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira : "É minha!"
— "É minha!" a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxavam por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando a bola e a peteca,
Ambas por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...
A rã e o touro
(fábula de Esopo)
Pastava um touro enorme e forte, a beira d'água.
Vendo-o tão grande, a rã, cheia de inveja e magoa,
Disse: "Por que razão hei de ser tão pequena,
Que aos outros animais só faça nojo e pena?
Vamos! Quero ser grande! Incharei tanto, tanto,
Que, imensa, causarei às outras rãs espanto!"
Pôs-se a comer e a inchar. E ás rãs interrogava:
Já vos pareço um touro?" E inchava, inchava, inchava!
Mas em vão! Tanto inchou que, num tremendo estouro,
Rebentou e morreu, sem ficar como o touro.
Essa tola ambição da rã que quer ser forte
Muitos homens conduz ao desespero e à morte.
Gente pobre, invejando a gente que é mais rica,
Quer como ela gastar, e inda mais pobre fica:
— Gasta tudo o que tem, o que não tem consome,
E, por querer ter mais, vem a morrer de fome.
AS ESTAÇÕES
O inverno
Coro das quatro estações:
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da natureza!
O inverno:
Sou a estação do frio;
0 céu está sombrio,
E o sol não tem calor.
Que vento nos caminhos!
Trago a tristeza aos ninhos,
E trago a morte à flor.
Há névoa no horizonte,
No campo e sobre o monte,
No vale e sobre o mar.
Os pássaros se encolhem,
Os velhos se recolhem
À casa a tiritar.
Porém fora a tristeza!
Em breve a natureza
Dá flores ao jardim:
Abramos a janela!
Outra estação mais bela
Ja vem depois de mim.
Coro das quatro estações:
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da natureza!
A primavera
Coro das quatro estações:
Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a natureza!
Já nos voltou a alegria!
A primavera:
Eu sou a primavera!
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu!
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel*: *jardim, pomar
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a primavera,
A flor das estações!
Coro das quatro estações;
Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a natureza!
Já nos voltou a alegria!
O verão
Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra destas mangueiras
0 verão:
Sou o verão ardente:
Que, vivo e resplendente,
Acaba de nascer;
Nas matas abrasadas,
0 fogo das queimadas
Começa a se acender.
Tudo de luz se cobre...
Dou alegria ao pobre;
Na roça a plantação
Expande-se, viceja,
Com a vinda benfazeja
Do próvido* verão. * abundante, cheio
Sou o verão fecundo!
Nasce no céu profundo
Mais rutilo o arrebol...
A vida se levanta...
A natureza canta...
Sou a estação do sol!
Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra destas mangueiras.
0 outono
Coro das quatro estações:
Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs! Enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!
O outono:
Sou a sazão* mais rica: *o mesmo que estação
A árvore frutifica
Durante esta estação;
No tempo da colheita,
A gente satisfeita
Saúda a criação,
Concede a natureza
O prêmio da riqueza
Ao bom trabalhador,
E enche, contente e ufana,
De júbilo a choupana
De cada lavrador,
Vede como do galho,
Molhado inda de orvalho,
Maduro o fruto cai...
Interrompendo as danças,
Aproveitai, crianças!
Os frutos apanhai!
Coro das quatro estações:
Ha tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs! Enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!
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