VENTOS AZIAGOS
Poema de Antonio Miranda
Ilustração de Zenilton de Jesus Gayoso Miranda
A miséria como maldição.
Secas intermináveis
devastavam plantação e gado.
As vendas de muitas portas
na rua de São Pedro
e poucos compradores.
Passava a procissão do Senhor Morto,
passava a procissão de São Pedro de Alcântara,
passava fome
e um bumba-meu-boi em farrapos.
Passavam a febre amarela
e a cólera-morbo
combatidas com suco de limão,
infusões de pimenta malagueta,
enxofre em pó nas meias
e a simpatia das moedas de cobre
penduradas no pescoço.
Apensados, obstrutos e ventruosidades
—nó nas tripas e beriberi.
Passava sezão, gota, pleuris
maligna e verminose.
Vivia-se de enfermidades
aviando medicamentos.
Morria-se na véspera,
antes mesmo de nascer:
corpos adubando o solo.
Havia mais mortos enterrados
do que vivos, e do fundo
da terra, milhares de olhos
observando os mortos futuros.
Extraído de: MIRANDA, Antonio. Do Azul mais Distante. Brasília: Thesaurus, 2008.
O poemas VENTOS AZIAGOS foi publicado no jornal:
POIÉSIS Literatura -Pensamento & Arte – Ano XIII – No. 133 – abril de 2007 Rio de Janeiro: 2007. p. 4.
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