Ilustração de Leo Lobos (Chile)
UM CAMINHO PARA ONTEM
Poema de Antonio Miranda
Um caminho para ontem, sem volta.
Amanhã é hoje, é nunca.
Uma vaca estacionada na avenida,
eu voando sobre os telhados, luzes,
estantes vazias, mamãe lamentando
aquela existência mínima, estancada.
Meu pai assistindo a luta de boxe
na TV em preto-e-branco.
Papai de pijama, o chinelo envergonhado,
havia mais anúncios que programas na TV!
Eu me refugiava no quarto e sonhava;
da janela avistava paredes, desconsolos,
o Maracanã, balões flutuando, chuva.
“Chuva me chama, o horizonte é uma
interrogante que ainda vou desvendar”.
Meu pai me levou, ainda adolescente,
ao Maracanã. O Brasil perdeu a Copa!
Meu pai chorou, eu torcia pelo Uruguai.
Não entendi porque trocaram de lado,
e continuaram o mesmo jogo, ao contrário.
Ao contrário era eu, ainda adolescente,
beijando-me no espelho, apaixonado.
Depois me dividi com os outros.
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