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TELOS

Poema de Antonio Miranda

Foto: Robson Corrêa de Araújo

 

TELOS

No futuro,
haverão de comer as próprias fezes,
recicladas.

 

(MIRANDA, Grito interrompido, 2007)

 

                            ***

O título é uma palavra de origem grega que significa finalidade. O termo inclusive designa a ciência da teleologia. No poema, essa palavra é utilizada como conceito de meta, alvo ou objetivo, por visualizar a finalidade de um determinado futuro. A mensagem deste antipoema é complexa e abjeta. Que futuro é aguardado a estes seres vivos? Especificamente, a estas pessoas? Todos “haverão de comer as próprias fezes”. O verbo é indeterminado; encontra-se na terceira pessoa do plural, o que vem a generalizar aqueles que irão se alimentar dessa substância repugnante, ou seja, tudo remente ao agente eles quanto elas. Estes sujeitos que consumirão os coliformes fecais são zoomorfizados. E o fato de as fezes para o alimento serem recicladas aponta para um porvir sem esperanças de mudanças, para um caos que se enraíza e não se desvincula da realidade humana, porque é cíclico e ininterrupto. O texto mesmo pequeno, pois, é composto por um terceto com dois versos trissílabos interpolados e um decassílabo central, possui uma mensagem bastante reflexiva sobre o que uma exigência de maneira geral aguarda.

O contexto dessa escritura antipoética é esperpenticamente conflitante e desconcertante. A gravura retrata uma rua cheia de poças de lama oriundas da chuva, muros erguidos com telhas de amianto, calçadas sujas cheia de terra e lixo. Oximoricamente, vemos casa de cores opacas e escurecidas, algumas até necessitando de uma revitalização na pintura e estas contrastam com o amarelo-alaranjado de um estabelecimento marcado com a inscrição de um sol com letras de fôrma. E o futuro disso tudo é viver das fezes e recicla-las para aqueles que delas se mantêm alcancem a sobrevivência neste habitat desesperançoso. As qualidades sígnicas, isto é, qualissignos depreendidos desta fotografia são fortemente lúgubre, malsãs, geradores de uma atmosfera esperpêntica, próprios da veia antipoética mirandiana.

Extraído de


In: DIAS JUNIOR, Valter Gomes. A poesia de Antonio Miranda e suas intersemioses. João Pessoa, PB: Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de Pós-graduação em Letras, 2014.  268 p. Tese de doutorado defendida com Louvor.

 

 

 

 
 
 
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