SAMBAQUIS
Poema de Antonio Miranda
(a partir da exposição ANTES - HISTÓRIAS DA PRÉ-HISTÓRIA- do Centro Cultural Banco do Brasil)
Que povos soterrados
que línguas extintas
que marcas imanentes
povoam as cavernas
de paredes ardentes
de fogo e vivência
nos vestígios rupestres
em São Raimundo Nonato?
Que vozes ressoam
com os ventos passantes
entre ruínas reluzentes
de nossos antepassados
na Serra da Capivara?
Que nos revelam
as cerâmicas silentes
dos povos marajoaras
desaparecidos, ausentes?
Verdadeiramente
de onde vieram?
De muitas partes
certamente.
Quando? Por onde?
De períodos remotos
por caminhos ignotos.
De quem eram as ossadas
sepultadas em urnas funerárias
em sambaquis enterrados?
Que relações com povos andinos
com civilizações asiáticas
com homens pré-históricos?
Que palavras permaneceram
daquelas línguas isoladas
esquecidas, deformadas
pelo tempo ou dizimadas
pela civilização?
Que dizem as pinturas
e figuras das cariátides
de Santarém?
Que cerimônias ensejavam?
Que pensavam e sonhavam
que costumes havia
como sobrevivia no cotidiano
o homem destas paragens
dez, dez mil, trinta mil
anos atrás?
Que história haveria
na pré-história
e que desvenda
a sua arqueologia?
Cabral surpreendeu-se com ossos
nos lábios dos indígenas – os tambetás-
sem entender as origens
e nenhum significado.
E os muiraquitãs zoomorfos
a que serviam?
Que Champollion haverá de decifrar
os hieroglifos
da pedra lascada do Ingá?
Que mitos, que ritos
revelam os grafismos
e antropomorfismos de Maracá?
Que imagens ainda guardamos
nas faces errantes
que traços antigos
sobrevivem na gente?
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o poema faz parte do projeto Terra Brasilis.