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REVER

 

Poema de Antonio Miranda

Fotos do autor



infância inesgotável pelas
                              tangentes da memória
oxidada, em desconsolo, decomposição;
aves de arribação, cofres desvendados
— a manhã eterna do não.

quero de volta os meus botões
dourados,
               fotos amareladas,
aqueles adeuses infindos de fim de tarde,
o pai regressando do trabalho,
sopa à mesa em que, circunspectas,             
          as estrelas vagavam alhures.

nada de humilhações redivivas,
          mãe atribulada, avó ressentida
                              e sinos roucos
— sentimentos indigestos
          de resignação e desesperança.

os quadros nas paredes,
          panelas silvando, visitas na sala
e os afazeres postergados
 — vã filosofia no divã, risos,
          estávamos no passado antes do tempo.

haveremos de romper o espaço-tempo
          de calcomanias, álbuns de família,
          telenovelas reprisadas, a tia que engravidou
           e suicidou-se, a que se foi para o desconhecido
e as cartas de amor na gaveta desmantelada.

nada de lamúrias, crisóis envenenados,
          por do sol o tempo todo, telefonemas
          não atendidos,
          — haja disposição, desalento não!!!
pássaros de asas cortadas fora das gaiolas,
          pensamentos errantes, horizontes sem fim.

quero minha infância de volta,
          o carteiro trazendo a notícia do noivado,
          as portas escancaradas, nadas
 — o primo que voltou da guerra sem medalhas,
alvíssaras!!!

que os relógios retrocedam, nuvens
          condensando-se, baús escancarados, sortilégios
          gibis, guris, azuis lampejos
          de uma felicidade sem volta,
aprisionada em molduras nas paredes.

antes de tudo.
antes de ontem.
ante
          véspera, vísceras
raciocínios arredios.

abrir as arcanas superstições,
os medos, as ações proteladas,
as negações negociadas
          — refazer o que nem se completou
          ou, melhor ainda, recompor.

quero meus brinquedos de volta,
          o primeiro beijo,
          a namorada que nunca tive,
          os poemas inconclusos, figurinhas,
          preces interpostas, missas de obrigação<
          ação contínua — o serviço militar.

nada de interpelações, nada de senões,
          devir, dever, desvios do ser
          — não encaixar no padrão assinalado,
hinos, mandamentos, pensamentos de evasão.
não, não e não!!! senão...

quero minha bicicleta de volta,
meu diário inconfessável, canções
pelo radio, circo; sem festas
de aniversário, sem mimos,
os mesmos de sempre com as mesmas
frases, lugar-comum, lugar algum.

desassossego, temor, aconchego.
chego tarde e saio cedo, arremedo.
quero esquecer-me, rever, rever
sem comprometer-me: nada fui,
jamais serei o que pretendia,
não cheguei a ser o que queriam.
saio do armário em que me encaixaram
e a luz me cega, e me atrapalho,
espantalho assustando-me, atalho
entre o nunca fui e o jamais serei:
errei sim, confesso, assim, assado, infinito.
tenho dito.

 

México, DF, outubro 2012.


 

 

 
 
 
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