RETRATO DE NILDO
Poema de Antonio Miranda
És um boi andando
de salto alto,
um besouro
contra a vidraça.
Pura pirraça.
Me toma de assalto
com as mãos de ferro
e me alça, arremessa
e despedaça
contra o muro.
És um leão marinho voando
ou dando braçada
por um mar parado;
as mãos enormes
— e delicadas!!! — dedilhando
um noturno ao piano.
És um pássaro sem asas
decolando, teimoso;
um trem silencioso e soturno
com a alegria apagada
para não ser reconhecido.
Ido, antes mesmo de chegar,
ausente e no entanto volumoso,
adernado no sofá, arqueado,
mas airoso, flébil, ágil
em sua estática figura.
Um oximoro, um paradoxo
que respira e dorme !
Enorme, levitando no sonho
de discretas projeções, e seus
despistamentos, encantos.
Brasília, 20 jan. 2008 |