RESGATE DE CRISTO
Poema de Antonio Miranda
Jesus Cristo estava louco.
Foi crucificado sete vezes
desvestiram-no
tornaram a vesti-lo
e o mistificaram.
Jesus Cristo estava louco.
Foi preso.
Foi castrado
e cuspido.
Subiu montanhas
atravessou desertos
corações
fez milagres
revoluções
inventou a bomba atômica.
Jesus Cristo estava louco.
Transformava água em vinho
mas nunca vinho em água.
Batizou gente
fez manifestos marxistas
e inaugurou o parto sem dor.
Jesus Cristo estava mesmo louco
vendendo terrenos no céu
cinturões de castidade
L.S.D.
Então vieram os profetas
os santos papas
os críticos de arte
e o reabilitaram.
Construíram igrejas
escreveram a Bíblia
a crônica escandalosa dos césares.
O cristianismo
virou imperialismo
ecumênico.
Alucinou nosso querido Nietzsche.
Responsabilize-se Cristo
pelas minissaias
pelas longas cabeleiras
pelas pílulas anticoncepcionais.
Afinal, Jesus Cristo estava louco
completamente louco.
O poema “Rescate de Cristo” (Resgate de Cristo” foi apresentado pela primeira vez no Festival de Poesía y Canción de Protesta no teatro da Universidad Central de Venezuela e na Universidad de Los Andes, em Mérida, organizado por Antonio Miranda e Eduardo Gil, em 1969, com enorme sucesso de público, que entendeu o sentido da mensagem desmistificadora da imagem de Cristo que foi transformada em objeto de poder e de consumo.
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