Eu sou mesmo radical
— como queria Marx: pela raiz —
pelos extremos
pela raiz que extrai o significado
e sua essência e subsistência.
Também pelas raízes
aéreas, abertas
sujeitas à oxigenação
e à fotossíntese
sintetizadora de discursos
e sentidos
catalizadora de sentimentos
que interpretam e reinventam
o universo de que participam.
Raízes da contemporaneidade
projetadas no devir
e transformar
a matéria sedimentada de lugar-comum
e pretérita de que se nutre
e nega e desconexa e assume
e supera.
Raízes que dilaceram a pedra
e sua firme arquitetura
que sujeitam volumes e pesos
e formas e cores
e propósitos. Jamais parasitárias
em seu ofício de contestação
e revelação
que adensam e rebrotam
e reverberam ao sol
e aos questionamentos
na metamorfose
da criação
e da assimilação.
Radicalismo pela contrafação
pela transitoriedade
de sua fixação
em não-ser instituído
e firme
e.
Extraído de DESPERTAR DAS ÁGUAS. Brasília: Thesaurus, 2006. |