Poema de Antonio Miranda
Ilus. José Campos Biscardi
Sentir-se no limite
(toda a vida na mão)
e dar um passo mais
transcender
com um gesto mover o universo
com uma palavra
qualquer
dar novo curso à história.
Porque o símbolo torna cúmplice a todos os homens
a palavra os nivela.
Saber que o amanhã não existe
que ontem é ilusão
e no entanto
estar aí no mundo
ser o próprio tempo
fazer com que todas as coisas existam
até mesmo as impossíveis.
O homem ama todas as coisas
individualiza-as
projeta-se nelas
e em amar se recupera.
O amor é um caso impossível
uma equação sem resultado
o equilíbrio insustentável
e o homem ama!
Porque o amor não ocupa espaço
o amor não tem limite
está além do tempo.
O amor não ama em particular
mas no geral
porque o amor está além do tempo
mesmo que se manifeste em seu tempo.
Porque o amor que se ama
é um mínimo múltiplo comum de todas as coisas
um horizonte contínuo
e um vir-a-ser perene.
Poder amar pelo amor mesmo
sem esperar do amor mais que o amar.
Saber que o amor que se materializa
é um deixar de ser
um superar
e ainda assim, arriscar-se!
Amar, simplesmente.
Amar até mesmo sem possibilidades
ir além do gesto
e o momento,
perguntar sem esperar resposta.
Amar a todo o universo
em um ser particular
mensurável e condicionado,
projetar-se neste ser
contaminar-se com ele
perder-se nele tão completamente,
tão profundamente,
que toda razão seja impossível
todo juízo insustentável!