Para Trina Quiñones
Ilustração de Azalea Quiñones (Venezuela)*
Um menino me disse
- mas estava enganado -
gostar de poesia porque
ele lia tudo rapidinho.
Ledo engano: quanto menor
o poema, mais denso
requer pausas, releituras
cruzar os pensamentos.
Ler no espaço das palavras
além das formas/idéias
não ler as palavras
mas sua tessitura interna.
A poesia é mais de quem lê
do que de quem escreve
- o poema circunscreve
um universo qualquer.
Todo poema é hermético
requer um certo desvendar
porque o poeta-ventríloqüo
fala pela boca de outrem.
Palavras-coisas, lapidais.
Palavras-pessoas, além
de si mesmas - outras
- palavras homologais
mesmo as circunstanciais
cifradas no eu-mesmo
da poesia do circunlóquio
que se liberta e ganha
espaço.