PAÍS INCONCLUSO
Poema de Antonio Miranda
Foto de Bernardo Antonio de Barros Lima*
“Já desisto de lavrar
este país inconcluso
de rios informulados
e geografia perplexa.”
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
I
Eu, nem tanto.
É uma lavra complexa
em terras sediciosas
e arbitrárias.
No entanto,
sedutoras.
Capitanias hereditárias
(promissoras!)
atávicas, refratárias
à transformação
senão pela ação
contestatária.
Que assim seja!
Pela lavra reflexa
da palavra incidente
sobre o país obtuso
e demente.
Com bisturis e acicate
na visão de gabinete
em versos brancos
verdes e amarelos.
Haja ira e ironia!
II
Brasil que o poeta
percebe envergonhado,
de paletó e gravata,
numa leitura de enfado.
Uma geografia perplexa
de estados maiores
e províncias menores
numa política
de supremacias
e inferioridades
sob o disfarce
federativo.
Depois da Guerra, alçado
aos seus questionamentos.
Depois de Getúlio Vargas
e antes do mesmo Getúlio.
Claros enigmas, eleições:
pretensas mudanças
informuladas, atadas
a estruturas pensas,
a conchavos subterrâneos,
a acordos de aparência
sujeitos às fraturas
de qualquer dissidência.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Rosa do Povo, cancerosa
em que o poeta
protesta mas desanima
assina o livro-de-ponto
depois
aperta o detonador
do poema
e desperta
as consciências
na penumbra surda
das massas, no aconchego
das musas.
O poema faz parte da obra inédita Terra Brasilis.
*“Pátria amada”, foto do jovem BERNARDO ANTONIO DE BARROS LIMA, participante do Projeto Vamos Bater Foto, em exposição na Biblioteca Nacional de Brasília, em outubro de 2007, realizado com a curadoria das fotógrafas Andrea Aymar e Regina Santos.
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