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OSCAR NIEMEYER


Poema de Antonio Miranda

 

Museu da República
Foto:
ROBSON CORRÊA DE ARAÚJO



Oscar Niemeyer

poeta-escultor.

 

Arquiteto do Rei.

 

Linhas no espaço sideral,

curvas no infinito

das constelações virtuais.

 

Criando avarandados coloniais

rampas cósmicas.

 

Ateu e comunista.

 

Materialista das catedrais

humanas,

das capelas espirituais.

Como mãos votivas

numa prece eternizada

no concreto armado

da Catedral ecumênica.

 

Todas as mãos candangas

paranaenses mineiras

pemambucanas

todas as mãos nortistas

paulistas

de todos os quadrantes

e sextantes

sustentam o universo

nacional.

 

No alto passam as

nuvens cintilantes

e os aviões da Real e da Panair

uma conspiração de anjos

burocratas diplomatas

voam políticos, empreiteiros

e trovejam e relampagueiam

tempestades

e fogos de artifício.

 

Sensual ou curvilíneo

em formas simbolistas:

mãos redes seios.

Devaneios.

 

Talvez abstrações

com intenções figurativas.

 

Ou seriam estruturas-esculturas?

Barrocas, modernistas?

 

Nas simetrias liberadas

e nas geometrias depuradas:

teatralidade.

 

Volumes espaços alturas

verticalidade

ou extremidades em vértice

a eludir o estático

e o majestático

— contra as regras

e as limitações.

 

Niemeyer é tão ou mais monumental

ainda que sóbrio

mais leve quando concreto

e funcional

mais denso quanto poético.

 

Surpreendente.

 

Sem concessões à trivialidade

porque genial.

 

Todas a artes irmanadas

no mármore, nos arcos

ancestrais

abóbadas sonoras

colunas dançarinas,

vitrais. 


Foto: Antonio Miranda lendo o poema para o arquiteto Oscar Niemeyer

 


Poema extraído de CANTO BRASÍLIA.  Brasília: Thesaurus, 2002.  94 p. ilus.

ISBN: 85-7062-324-0

Em homenagem ao Centenário de Juscelino Kubitschek de Oliveria e Lúcio Costa.

 

 

COMENTÁRIOS

 

Grato pela mensagem e pelo generoso poema, dedicado ao Mestre Niemeyer. É verdade tudo quanto diz o poema. Platão mudaria de ideia em relação aos poetas, se lesse essa ode tão exata e legítima.
Abraço afetuoso do
MÁRCIO CATUNDA, Madri, dez 2012

Que bela homenagem ao poeta-arquiteto! Adorei a imagem de "todas as mãos candangas" levantadas aos ceus na cadetral de concreto...a leveza do concreto e a densidade da poesia. Parabens! É um belo poema!
DÉBORA SANTOS

Que seria do mundo, sem a existência dos poetas? Niemeyer, de alguma forma, era também poeta, e dos bons. E você, com sutileza e mestria, soube neste poema arquitetônico descrever e iluminar a trajetória do artista, que, junto a Dave Brubeck, resolveu partir no mesmo dia em que Mozart foi para o céu: 5 de dezembro. Parabéns. João Carlos Taveira - DF

 

Arquiteto do Rei...é lindo...e diz tudo.
CLÁUDIA AHIMSA, poeta, RJ.


Miranda,
Você que habitou obras dele, como a monumental Biblioteca Nacional de Brasília e conviveu com ele, sabe a falta que faz.  Aliás, o mundo sem Niemeyer fica mais pobre e feio.
RONALDO CAGIANO, SP

 

 

“...parece-nos que o poema dialoga com a obra e o personagem do “poeta da arquitetura”. Mais ainda, ilumina a genialidade do criador de uma cidade-capital-símbolo. Circunscreve o agora Mito, sem perder-se da sua característica autoral, da poesia empenhada com a “emoção estética” e do registro histórico. Assim você denota ter esculpido os versos com a precisão semântica, dicção essencial e uma finalidade à palavra que nos eleva frente à morte. Depois da leitura, e diante da perda irreparável, resta-nos o silêncio e a memória de simples leitor mortal, resignadamente tocado.”           DONALDO MELLO, Brasília, DF

 

Formas e palavras... na prancheta, nos espaços públicos, no papel ou na tela: seu melhor encontro chama-se poesia.  DULCE BAPTISTA – Brasília, dez. 2012

 

 

 



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