O SONHO
Poema di Antonio Miranda
Foto: Ricardo Rodrigues
Condenados ao moderno
por fatalidade,
à contemporaneidade.
Sem herança ou tradição.
Uma Nova Capital como
semente, traço de união,
como sonho colonial
como ideal inconfidente
como bandeira e pregação
desenvolvimentista.
Tiradentes, JK.
Utopia. Vertigens antecipatórias,
emblemáticas miragens.
Integração nacional.
“Deste Planalto Central...”
Do litoral para as entranhas,
dos pampas guerreiros
para as altitudes serranas;
das caatingas e dunas atlânticas,
das hiléias e pantanais aquáticos,
das minas
e das serras gerais,
das chapadas e manguezais
aos entroncamentos
e altitudes planaltinas
centrais,
ao encontro das
diversidades
e adversidades
nacionais.
Brasil, capital Brasília.
Convergência e confluência.
Idealizações premonitórias,
crenças adventícias,
intuições advinhatórias,
raciocínios redentoristas.
Brasilidade.
Compreendida mas indefinida,
é e não se revela,
é sensível mas não é
inteligível.
Como um Oráculo ao qual,
nus e incrédulos,
além do Raciocínio e da Razão,
professamos.
Ou profetizamos.
Ou foi Dom Bosco,
visionário da boa-aventurança?
Ou foi Malraux declarando
a esperança, afirmação
cultural, liderança,
força coletiva,
determinação?
O intangível, o inteligível,
ou seu destino maior
por que Utopia,
porque impossível.
Aspiração.
Estandarte para a grande caminhada,
palavras de ordem,
ideário e bestiário,
canaã democrática, ultraista,
concreção e irradiação.
Realização pessoal e coletiva?
Deslumbramentos.
Paradoxos.
*
Extraído de: CANTO BRASILIA. Brasília: Thesaurus, 2002
|