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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



O JOVEM NA LIVRARIA

(um memorial)

 

Poema de Antonio Miranda

 

 

De pé, lendo na livraria.

Nas proximidades, os bondes

confluindo no Tabuleiro da Baiana;

marmiteiros na direção de grotões

com valões a céu aberto;

trens trepidando e perdendo-se

nas penumbras ignotas e tristes

de um desterro suburbano.

 

De pé, lendo na livraria.

La fora, analfabetos e letrados

revezando-se no espaço

sem solução à vista:

Brasil, país do futuro!

(Escuro, muro, desconjuro.)

Transeuntes, ambulantes

e uma elite na livraria.

 

Senhores nos botecos, goles

de  café, “lotações”; ainda havia

batedores de carteira, malandros,

funcionários públicos (barnabés)

pelos institutos de previdência.

O garoto, de pé, na livraria

lendo Drummond, Bandeira,

vindo do bairro mais distante.

 

Brasil, afinal, Campeão do Mundo!

Sorrisos sem dentes, salário mínimo,

programas de auditório, carnaval.

Mundo mundo, vasto mundoeu não

me chamo Raimundo, mas Antonio,

flébil, esguio, com dinheiro apenas

para o pastel e o ônibus; os livros

eram leitura de livraria, de pé.

 

O pai, barnabé; a mãe, costureira.

De pé, lendo na livraria: Drummond,

Cabral, Bertrand Russell, e algo mais.

Um fragmento de Baudelaire, um pedaço

de Aimé Cesaire, frase de Nietzsche.

“-Que livros você quer levar, meu jovem?”

Pensou: “nenhum”. Gostaria, mas não podia.

Lá fora, tantos outros como ele.

 

Personagens sem olhos, sem boca.

Massas humanas movendo-se

anônimas; bacharéis luzindo anéis.

“A vida como ela é”, do Nelson Rodrigues.

Vedetes de teatro de revista, Ibrahim Sued.

Miss Brasil não falava inglês

e já imitavam jazz e rock

e a bossa-nova queria ganhar o mundo!

 

E o garoto, de pé, na livraria.

Pode levar os livros que quiser, sem pagar”.

(...) “Sim, isso mesmo, jovem, os livros

que quiser: dois, dez, à vontade”.

Quis correr, encabulado, assustado.

“Uma pessoa viu-o lendo, e emocionou-se:

(...) Um magistrado, um homem abastado.”

(...) Deixou crédito aberto a seu favor...”

 

“Machado de Assis? Jorge Amado?

Menotti del Picchia? Sartre? Camus?”

“O que quiser, o que consiga levar!”

(...) Na estante de casa havia livros

emprestados da biblioteca pública.

Sorte que havia bibliotecas públicas!!!

Levou para casa o J. C. de Melo Neto

e a filosofia difusa de Lin Yutang.

 

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Outros livros seguiu adquirindo

por conta própria: tantos, tantos!

E ali está, de pé, na livraria,

outro jovem suburbano lendo um livro!!!

 

10/06/2008

 

 

O jovem na foto é Antonio Miranda, em 1956, aos 15 anos de idade, na fundação da Associação Iguassuana de Imprensa, na Câmara Municipal de Nova Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro, quando dirigia o jornal A Voz da Juventude.




 

 

 
 
 
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