NU EM SUORES
Poema de Antonio Miranda
Para Aurora Cuevas Cerveró,
no dia de seu aniversário.
Nu, em suores, naquela paisagem difusa
cortando o ar em disparada: os braços
balançando —e o sexo, um pêndulo;
os cabelos voando, nervos hirtos.
Do alto das árvores, ramagens indiferentes
mas moventes com a nudez avançando;
e os pássaros dormentes, sonhando
espaços, seiva circulando, peito em frêmito.
Nu, deslizando entre folhagens perturbadas,
polens moventes, luzes trepidantes, cipós,
nuvens distantes, troncos derruídos, sóis
e o ermo corpo em seu afã de liberdade.
Se a chuva, se a noite, se o farfalhar
de cansado húmus em decomposição,
cedendo ao passo célere de quem
por não ter aonde ir, vai em qualquer direção.
Nu, irredutível nu, naquela paisagem
que é de qualquer um — se quisesse,
sempre em movimento, deslizante, polido
pelo roce e suor, saliva; arfante, pés.
Nu, irremediável nu, em suores, cores,
refletindo sua relação com o mundo.
Brasília, 3 de agosto de 2008
Homenagem endossada também por seus amigos Elmira Simeão e Nildo.
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