de qualquer lugar envio mensagens
despistadoras:
o Sena ferve e fede
e os girassóis fenecem no estio
nem sei por onde ando
pois monitoro minha casa
meus pertences minhas propriedades
como partes de mim
e me esquartejo em Amsterdã
e mergulho no Ganges com asco
e horror
levo fotos de família
e os móveis e utensílios na mala
carrego tudo comigo
a pátria os amigos os entulhos
e escombros a toda parte
e sucumbo sob o peso
de memórias e desfalecimentos
levo cicatrizes e amarguras
levo nãos e rejeições sofridas
estampadas na retina aguda
e agonizo diante da Torre Eiffel
ou despenco da Torre de Pisa
nu e irreconhecível
para o escárnio dos turistas
como chucrute com gosto de piqui
e as aves que aqui gorjeiam
as tardes que aqui soçobram
lembram coretos e pracinhas suburbanas
os quiosques da Lapa no antigo Rio de Janeiro
por onde andei na minha infância
e as dunas da Barra da Tijuca
em que enfio a cabeça
como um avestruz desterrado
da próxima vez
fico em casa
e invento paisagens e relacionamentos
Brasília, 29 de outubro de 2009
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