NÃO MAIS
Poema de Antonio Miranda
Para Angélica Torres Lima
Foto: Carmen Fulle
Eu te busco, mas não mais
estás por onde ando
— em tempos assimétricos, velo
teu corpo inacessível, deixado
há décadas na foto imputrescível.
Eu te encontrei em outros
pareceres, haveres, padeceres.
Eu te busco, não mais existes.
Estavas sempre a meu lado,
ausente, desejado
— corpo intermitente. Adotei
teu nome, assumi teu corpo
quase extinto, reencarnado,
possuído tantas vezes, me refugio
naquilo em que não estás,
anseio.
Eu te busco, não mais existes.
E por seres o que nunca foste,
te espreito e reconheço assim
— transmutado, recriado, consumido
e consumado, sumido, sido.
Resta a foto que nem é tua.
Tua carne nua, crua, que
agora sua no prazer conformado.
Foto: Saliendo de la oscuridad, de la gran fotógrafa y amiga chilena Carmen Fulle.
Em seguida, poema de Angélica Torres Lima em resposta ao poema dedicado (acima) por Antonio Miranda, estabelecendo um verdadeiro diálogo poético. Fica o registro, feito em outubro de 2008.
TODAVIA
Poema de Angélica Torres Lima
a Antonio Miranda
Que musa foi, querido amigo,
a que enviei assim tão trôpega,
ausente, soturna, ao teu cinzel
de câmara escura
Tamanha gravidade e tanta fúria
entornaram-se do pincel:
tempestade majestosa
gravada em noite nua
Que não te esvaia
o braço turvo
por altares de presságios:
é só mais um crepúsculo,
e a flor em mim
já se veste de veludo
BIBLITECA DEMOSTRATIVA CONVIDA PARA EXPOSIÇÃO EM HOMENAGEM A
Antonio Miranda
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