I
O sonho é um não-lugar
que habito
virtualmente
- no tempo e no espaço
da não-existência
de cuja permanência
ou imanência
dependo.
Entendo: sonho, logo existo.
II
No bonde, antigamente...
No trem, no navio, em movimento
- um não-lugar concreto.
E na Internet, atualmente.
O bonde trilhando
O avião voando
O navio...
Existe lugar em movimento?
(Um-lugar-de-momento).
III
Onde estou, se sou?
Mas não estou em mim,
necessariamente.
Habito uma galáxia
(planetária)
em expansão
(informacional)
e sou onde estou.
IV
Se existem tantos centros,
eu sou um deles
- o único possível para mim.
Não por causa do egocentrismo
ao contrário:
por causa do exocentrismo
- o sair de mim,
o expandir-me
pelo compartilhar
pelas relações múltiplas, rizomáticas, fractais.
V
Se escolho navegar também sou escolhido
viro um escolho no oceano e também escolho
minha centralidade
(eu quase disse individualidade).
Fracionando-me pela rede.
Distribuído, digerido
- vomito e, na volta, me devoro
e excreto: sou mutante.
VI
Vou aonde a rede me levar.
E o meu endereço
(o meu lugar) é a rede
em que descanso
e me reencontro:
eu-ilha
virilha
trilha...
(e outras relações metatextuais
ou hipertextuais). Demais!
(Brasília, 30 de outubro de 2005) |