Escultura em madeira (1985?) de Antonio Miranda
(Col. Museu da República, Brasília)
MEDO DE VIVER
Poema de Antonio Miranda*
“a posteridade julgue que em todo o legado
da civilização cristã há algo de mesquinho
e demente” – NIETZSCHE
*Aurora – pensamentos sobre os preconceitos morais” §16
Que venham em defesa de mim mesmo,
salvando-me de mim. Quero ser sem culpa.
Penalizado pela própria altivez.
Transformaram a dor em prazer:
cruz em movimento
como fundamento do ser.
Desaprender a fé! Reverter o sentido,
transformar o aprendido,
mudando o pensamento.
Afasta de mim este cálice!
Fantasia de sofredor,
de ser feliz em sua dor
— do castigo merecido
por ter nascido, condenado.
Ninguém é concebido sem pecado?
Sentimentos regulares como
fontes de miséria e sofrimento.
Toda origem: uma culpa.
Todo futuro: um dever insuperável.
Mau, devoto do mal instransponível.
A ética é escrava do costume
e o ser livre cai na perdição
— diz o refrão moralista.
Brasília, 12.07.2012
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