IDENTIDADE REVERSA
Poema de Antonio Miranda
I
No Cuzco
a igreja está construída
sobre as ruínas
do templo dos incas:
tempo sobreposto.
Os lajedos superpostos
na perfeição suprema
da arquitetura nativa
resistindo aos sismos
e cataclismos.
As paredes
do templo colonial
envelhecem
em fissuras
e sustos.
Um templo dentro de outro templo,
uma cultura enxertada em outra cultura,
confrontando-se. Jamais se reconciliam.
II
Indígena/
indigna:
indignação
mas todos se persignam
em séculos de colonização!
Reverenciando
todos os santos
do calendário.
Na genuflexão
a alma cativa,
a sujeição.
Até quando?!
III
Que identidade é esta, de joelhos?
Que defesa de tradição é esta?
Penitentes jejuando,
flagelando-se
pelo cristianismo
que os converteu
e subjugou.
Cuzco, Peru, 12.09.2006
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