Uma inalcançável geografia
estende-se além de toda percepção:
país-continente, numa projeção
insondável
sem limites visíveis, apenas perceptíveis
por convenções e descrições
a um tempo vagas e imprecisas.
Nos extremos, a selva, o mar, as pradarias.
Mapa de relevos acanhados
planícies interpostas
a intervalos, por arestas
e frestas, por várzeas
e vales e rios
avolumando-se
articulando-se como vértebras
ou veias tributárias.
Altiplanos e chapadões enfileirados
escarpas, escombros, anteparos de serras
como muramentos abruptos
ou são encostas fracionadas, contrapostas
entre os mares e os campos gerais.
São degraus, camadas, terraços
tabuleiros suspensos
desde as costas argênteas e as extensas areias
até aos elevados da Serra do Mar
detendo os ventos e os movimentos
humanos.
Cerros aspérrimos, escarificados
onde nascem as águas emendadas
que descem em todas as direções
para todos os quadrantes
pelo leito dos mares extintos
da antiguidade de Goiás:
seu vulcão calado
suas fissuras cortantes
suas águas aflorantes/vazantes
por ignotos e remotos
percursos.
São verões abrasantes, decomposições
elementos variantes
dilatações e contrações
da rocha degradada e fria
das estações contrastantes;
são chuvas torrenciais
aguaceiros diluvianos
mananciais
por vertentes, desfiladeiros;
são as cheias inclementes
alternando-se com
a secura dos ares no estio
com os vaus secos
dos rios efêmeros
das secas penitentes.
Paredões talhados, erodidos
como recifes pontiagudos
(flagelos de antigos degelos)
até aos espinhaços planaltinos
-cortes meridionais paralelos-
por onde vaza o rio São Francisco
unindo e aproximando
os povos e os lugares.
Por patamares declinantes
por flancos e barrancos
pendores resvalantes, derruídos
-níveis, andares, patamares-
até a garganta fraturada
do Salto de Paulo Afonso
no sertão adusto
e dali aos estuários queixosos
e amplos, ermos e rasos
dos depósitos sedimentários.
Ao mar e sua imensidão.
Do outro mar, das alturas
e planuras
altiplanas
terras do sem-fim.
Extraído de TERRA BRASILIS (2005).
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