DO OUTRO LADO DA VIDA
Poema de Antonio Miranda
Ilustração de Zenilton de Jesus Gayoso Miranda
os ponteiros dos relógios em qualquer
direção, e as estações do ano trocadas:
não há roce nem orgasmo nem suores
mas o corpo está ávido, aflito
haja espera e esperança (e desconsolo)
no reverso incongruente da vida:
nesse viver em morte contígua
e exígua, irredutível, solerte
sentado na poltrona, aderno,
e o tempo, lá fora, estanca:
eu aqui dentro, a vida fora
de mim, exangue e ausente
— buscando lugares inexistentes
numa enteléquia de despistamentos
ou numa estratégia de inconformidade.
(Brasília, 18.01.2006)
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