DIÁRIO SEM AUTORIA
Poema de Antonio Miranda
Ilustração de Miguel Angel Fernandez *
Espasmo. A esmo, resvalando pelas calçadas
numa versão anódina e anônima:
sim, eu me nego, eu me confesso
inexistir nas entrelinhas do discurso.
Para início de conversa, está bem.
No decurso de um despistamento
e sem maior convicção ou mesmo fé.
Sem nenhum convencimento.
Melhor assim, tanto faz.
Escondido debaixo da escada
ou guardado numa gaveta
descanso uma ossatura
de peças pré-moldadas.
Você é que se refugia em certezas
enquanto eu afundo no colchão
desabitado de mim, mas assustado.
O mundo está explodindo
sob o peso das palavras:
há terroristas no Concílio
e veneno na merenda escolar.
Há um penetra na reunião do G-8
onde discutem a, algo assim, ou
a próxima, vão lançar um comunicado.
Acabam de destruir um meteoro
ou foi um ônibus em Londres ou em Bagdá.
Eu, falando para os seres inanimados.
Nu, na fotocópia. Tranqüilo. Impávido.
Não me chamem por meu nome
que já não me reconheço
desvestido de gravatas e sentidos.
Estou exilado e sem endereço
buscando algum sinal mais adiante:
aqui é impossível.
Sem cabeça, à deriva
renomeando objetos. Um pássaro fálico. Fugaz.
Corpos dilacerados, idéias extremadas.
Acho que por hoje basta.
(6 de Julho 2005, depois das explosões das bombas em Londres)
Visite a galeria de quadros do artista:
http://geocities.yahoo.com.br/mangel_arlt/paleta2.html
|