DEPOIS
DA MORTE
Poema de Antonio Miranda
Ilus. José Campos Biscardi
- o nada, certamente
talvez solidão e liberdade.
Quem sabe prados e montanhas,
quem sabe nuvens, ociosidade.
O medo é de acordar,
de recordar.
ou seria um estado total de amnésia?
Sem Deus,
vagando pelo espaço vazio.
Ou mais bem, preso à terra,
debatendo-se com os vermes,
pensando por inteiro,
derradeiro.
Sem asas, voando.
Rindo eternamente, sem graça,
sem testemunho.
Sem pernas de andar,
sem pênis, mudo
diante de ex-mulheres, ex-maridos
em concílio familiar
sem argumentos.
Talvez muito frio,
sem dúvida inodoro
mas nunca igualitário
porque mortos e vivos
guardam suas hierarquias.
Ou mesmo inconsciente
de possíveis transcendências ,
salvações,
assistindo o desintegrar-se
das células, sem qualquer
reação ou desassossego.
Até a morte parece finita,
sujeita à decomposição
inexorável
e à desmemória.
Extraído da antologia 25 POEMAS DE ANTONIO MIRANDA
(Campo Grande, MS: Editora Uniderp, 2004).