CONFISSÃO
Poema de Antonio Miranda
Tenho inveja, confesso,
de quem pode verter a sua dor
em plangentes versos de amor,
de quem explode em doce envide.
Tenho inveja de quem clama,
ama e se proclama sempre
em nome de um deus,
de quem tem a fé
que eu nunca tive.
Inveja de quem entra em desespero
e suicida por alguém
que lhe não correspondia;
enquanto eu, mesmo feliz
no relacionamento mais duradouro
vivo sempre o último momento,
todo dia.
Extraído de DESPERTAR DAS ÁGUAS (Brasília: Thesaurus, 2006)
Foto de Antonio Miranda tomada por Juvenildo Barbosa Moreira
em Colonia del Sacramento, Uruguai, em agosto de 2006.
|