BRASÍLIA
Poema de Antonio Miranda
Brasília é branca e luminosa,
de mármores e vidraças
refletindo nuvens metafísicas.
Blocos e quadras
e avenidas enfileiradas,
viadutos, memoriais,
geometrias e concretudes
transcendentais.
Onde o sol se põe
– teatral –
entre as torres do Congresso Nacional.
Numa escala de cenógrafo
neoconcretista, construtivista,
lançando manifesto
pela integração das artes:
pela dança das esquadrias,
poesia das colunas avarandadas,
pilotis sobranceiros
sustentando o firmamento do Cruzeiro do Sul.
Jardins petrificados,
monumentos vegetais.
Pirâmides, tumbas faraônicas
cabalísticas
erguidas
sobre rochas imantadas
a salvo dos dilúvios,
anunciando o Terceiro Milênio.
Como evitar o misticismo?
Yokaanan refugiou-se na
eclética cidade,
Tia Neiva fecundou o vale
no sincretismo das crenças
dos humildes
enobrecidos, capas e véus, vestais
em castas devocionárias.
Vivemos entre nordestinos
gaúchos, cariocas, paulistas
e extraterrestres.
Legiões humanas construindo
um mundo novo
plantando idéias minerais
metáforas concretas
de cimento e vidro
sonhos totemizados de artistas
vanguardistas
hipérboles metásteses
versos rimas decantadas
signos, sinais.
Todos as veias entronizadas
num discurso de mármores
votivos,
exaltando valores –
metamorfismos.
Extraído do livro CANTO BRASÍLIA (Brasília: Thesaurus, 2002).
Antonio Miranda em foto de 1963 diante do Congresso Nacional de Brasília.
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