BORGES
Poema de Antonio Miranda
Para Elga Perez-Laborde
Ilus. José Campos Biscardi
I
No labirinto dos espelhos
por caminhos multiplicados
ao infinito; lá no fundo
ou no começo.
Onde o tempo e o espaço
se confundem, porque
coexistem memórias
do olvido.
Em território ampliado
extensivo, além dos planos
e altiplanos sucessivos,
transformados.
Paisagens mutantes, antes
miragens, talvez passagens
ou descaminhos entre tudo
e o nada absoluto.
Lá está aquela máscara disforme
que encobre uma outra face
que oculta outras tantas mais:
metamorfoses.
Desvendamentos, desvelamentos .
Excertos, estratos, desconcertos.
Um ser que não mais existe,
nunca mais.
Ou que existe em transição .
Um ser de superfícies, camadas
numa couraça de resistências
impossíveis.
II
Um ser em que não me reconheço
que em sendo deixa de existir
que não tem começo e nem
princípio(s).
Um ser em precipício, levitando
sobre os espaços e os tempos
de um esclarecimento – o sentimento
do universo.
Num território de realidades
que seriam transfigurações
encontro Borges, onírico, flutuando
entre as palavras.
Ou pelos sentidos, pressentimentos
pairando sobre mitos e ruínas
latentes, no sentido dos sonhos
consentidos.
Referências, transparências,
transcendências. Sonhos sonhados
ou ruminados, ou imaginados,
essências.
Borges confessa: a realidade
não interessa; sua visão
perpassa as tessituras
do fabulário.
Na ceguidade iluminada
- origem e devenir das formas –
ele me vê bem além de mim,
ele se vê.
Eu não consigo vê-lo, apenas
me aproximo de sua substância
de símbolos e de significados
- se isso é possível.
Ele dialoga com os mortos
e enxerga além das evidências
e, negando a própria existência,
nos descobre.
Pois é de descobertas e desassombros
que construímos nossos espelhos
no labirinto infinito e imperfeito
das revelações.
Como Dante e seu Poeta preferido
indo aos epicentros da condição
humana, às suas projeções
e representações.
Com Borges, o mago, o vidente
um pré-socrático, um demiurgo
um transgressor por via dos questiona
mentos.
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