ATO CONTÍNUO
Poema de Antonio Miranda
I
Ciclos interrompidos, haverão de
superar-se — em terras inóspitas,
figuras inconclusas: simples
mente inacessíveis — inacessível-mente.
Imagens sucessivas, sensíveis.
(Mental – idade, metal em decadência.
Mortal idade do ser. Só a dor é perene.)
Irmãos de reflexão sem solução, vamos
aonde for nosso ímpeto e obstinação.
Paisagens apagadas nos registros
impossíveis: circunlóquios, avanços
e retrocessos — teclados, túneis
insondáveis, absurdidades.
(Pássaros não sabem de horizontes,
ou sabem, que sabe?, tampouco sabemos.)
Caminhemos, tu e eu, avante! Às calendas.
Músculos tensos. Relógios. Calendários.
Por que as tartarugas voltam
às praias em que nasceram?
Lembranças, atavismos, nós
sem rumo, sem prumo, devorando-nos.
Mutirões sem fim, arrependimentos.
Fuligens, vertigens, sentimentos transversais.
Voltar, jamais.
II
Voltando ao útero como último refúgio.
Diásporas reversas do ser, regressando
ao interior de si por onde, jamais.
Ventríloquos, vociferando e repetindo
refrãos, versículos, mandamentos, versos.
Nada. Nunca. Ninguém. Porém...
Discurso intermitente, gozo interrompido.
Você aí, parado, indeciso. Sei não.
Sua conta vencida, a arma disparou,
o sonho terminou. Vamos embora.
Inventar caminhos, criar horizontes. Além.
Revolver na nuca, vamos, decida!
E você, nunca!, e você aí parado,
consumido, sumindo, engrenagens
infindas, ideias em movimento.
Libertas quae sera tamem. Também.