ANTES DE NASCER, EU OUVIA
Poema de Antonio Miranda
Imagem: Fernando Barreto
Antes de nascer, ouvia e gravava,
sem entender: gritos, buzinas, canções.
Sem consciência do mundo, eu gravava.
Sons em movimento, eu inteligia?
era o alimento que vinha, ou tardava,
anunciado pelos passos, predizia?
Eu me saciava e não sabia, mas
havia, sim, havia, o esperar, e
uma certeza de que algo viria.
E eu me alimentava, sem comer;
sem saber, eu me satisfazia.
E ouvia, sim, eu ouvia e entendia.
Faço a regressão, vou em busca
do entendimento que não tinha,
mas sabia, sem saber, eu sabia.
Tento decifrar o que ficou gravado.
Não sei o que é, Mas o que não sei
molda tudo o que sei, e o que serei.
Minha mãe triste, — eu sentia!—,
minha mãe aflita estampada
em minhas entranhas, mãe-filho.
Ainda estamos juntos, depois da ida
num eco sem som, decifrando sons
extintos, indeléveis, tatuados na memória.
Memória física, em códigos que
eu não domino, que me domina.
Como Champolion, tento entender-me.
21.09.2008
O presente poema, em que livro, etc foi originalmente publicado:
ANTES DE NASCER, EU OUVIA
(POEMAS DE ANTONIO MIRANDA EM CARTÕES PARA O NATAL DE
2012. Piedade, Jaboatão dos Guararapes: Editora Guararapes EGM,
2012.)
Na web: (jornaldepoesia.jor.br:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/antoniomiranda.html
JORNAL DE POESIA –
http://www.jornaldepoesia.jor.br/antoniomiranda.html
(MEMÓRIAS INFAMES - Belo Horizonte: Anome Livros, 2009 / 96 p.
Edição de 500 exemplares, 70 deles com um CD - com gravação dos poemas
na voz do Autor, numerados e assinados pelo Autor)
(em português:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_ilustrada/portugues/antes_de_nascer.html
(PRISMA – A revista de literatura n. 006 – abril 2015. Porto Velho,
Rondônia:
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