A CASA DA CHÁCARA
Para Lourdes Planas
Ilustração de Azalea Quiñones (Venezuela)*
A casa da chácara reclama
seus mortos futuros
sem nenhum preparo
mas não por falta de aviso.
Há um tempo de vida
e outro – mais pesado – de morte
em todas as coisas:
tempos tangentes.
Um que flui por si mesmo
paralelo ao que se rumina
sem qualquer possibilidade
de reconciliação amanhã.
Um tempo que se constrói
de uma forma metafísica
e outro que se destrói
dialeticamente.
Tempo que
corrói
o próprio tempo
insustentável
e oco
- um ovo
por dentro e por fora,
sem solução.
Paralelas e tangentes
ao mesmo tempo
(se isso fosse possível)
num derradeiro encontro.
A casa da chácara tem a memória
encardida,
apodrecendo os alicerces.