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XX

À GLÓRIA DE WALT WHITMAN

 

Poema de Antonio Miranda

Ilus. de José Campos Biscardi

 

Então, é isso, a vida

         revelada enfim após

                  tantos espasmos e convulsões. WW

 

 

Eu, abjeto, confesso:

o conhecimento não pressupõe

a superação de problemas.

 

Eu, incestuoso

nivelo: construir é destruir

é mudar, tanto faz.

 

Eu, narcisista, como Whitman

concebo o homem

em estado puro.

 

Eu, anarquista

como o Barbudo democrata

panteísta

que só via o Todo

e ainda assim

desprezando regras morais.

 

Eu, imoral

diante da Morte celebrando a vida

— aquela vida que se reproduz e

perpetua-se

e rejuvenesce em outros corpos

feitos de pólen ou de

esperma

no ciclo infinito do universo.

 

Conhecimento da vida

da rua, do padecimento

— corpos possuídos, devorados

para a ressurreição

ou sucessão.

 

Formas que nascem e fenecem

que renascem

que não partam antes

que nelas deposite

o quanto trago acumulado.

 

Sêmen/te

o caminho do Oriente

o olho da serpente.

 

O sexo contém tudo, corpos, almas...

Sentidos, provas, pureza, leveza...

 

Eu, pedaço de Tudo

sofro a amputação

e protesto:

quero minha parte impura

confesso minha covardia

proclamo minhas limitações!!!

 

E teço o canto do mal

e comemoro essa parte de mim

 

Oh varar noites, vendavais, fome e desejo

recusas e atropelos, feito

árvores e animais.

 

É inscrever um poema

no coração da América

e na consciência do mundo

um poema-sujo

(que é o mais limpo de todos

como Gullar já demonstrou)

o anti-poema de Nicanor Parra

um hieróglifo, um código secreto

para os iniciados

e promover a leitura do Ser

em nossas entranhas e

entrelinhas.

 

Perverter os sentidos

em busca dos sentidos.

 

Velho amoral! Bruxo ianque!

 

 

 

Extraído de PERVERSOS. Brasília: Thesaurus, 2003




 

 

 
 
 
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