A CASA EM QUE NASCI
Poema de Antonio Miranda
Visito a casa em que nasci
mas detenho-me no umbral
sem penetrá-la, sem querer
profaná-la: o irreconhecível!
Outras pessoas é que vivem nela
e as tantas reformas e ampliações
desfiguraram-na, tornaram-na
invisível: só resta uma janela!!!
Onde morreu meu irmão Hélio?
Em que desvão as visões de menino?
E as acres lágrimas de minha mãe
e os sonhos acanhados de destino?
Havia até mesmo um pátio, e flores
e haveria nele rede e abano, e um quintal.
A porta sempre aberta, visitas, licores,
algum peixe frito no fogão a lenha.
Os avós estavam na parede, bisonhos.
E o meu desatino, meus desvios
Pressentidos antes que manifestos?
E os rios de chuva, em correria
descendo a rua para, logo, gemendo,
buscarem o Mearim, que seguiria
seu curso ao mar. E eu achava
que também me levava, e eu seguia...
Extraído de:
ALMANAQUE CALENDÁRIO 2020 AGENDA POÉTICA. Editor: Edson Guedes de Moraes. / Jaboatão, Pernambuco/: Editora Guararapes, 2020. 162 p. ilus. col.
Chácara Irecê, 14.01.2006
Nota: foto da casa em que nasci, em Bacabal, Maranhão, em agosto de 1940, de onde parti para o Rio de Janeiro, com a família, aos 8 anos de idade. Fica à rua Gonçalves Dias, 93 (antiga Rua Guimarães). Foto do autor.Quando lá estive (em março de 1999), uma senhora apareceu à porta, o vizinho do “puxadinho” veio perguntar por que eu estava tirando a foto... Disfarcei, afastei-me do local...
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