TRANSIÇÃO
Poema de Antonio Miranda
Morte
negra e cintilante
incensos de Hamlet
olhos mefistofélicos
gestos de sílfide
Esguia e marota...
Dramática, triangular, etérea.
Galáxias e magia negra.
Abraço de bruxa desdentada em noite escura,
noite escura como as noites de divagação e
tédio.
Negra, triste, noite, tedio, morte.
Triste.
Mulher moribunda,
cadavérica, desnuda como a própria alma...
Teatro de formas, de luza, de reflexão.
Mulher desgrenhada, voltada para si.
Passado e presente.
Só.
Consciência? Consciência.
Peso de pecados de formas e cores várias.
Mar de prantos, sulco de lágrimas.
Cânticos de anjos: foi mãe,
Silvo de cobras: foi cobra.
Foi cobra e foi mãe.
Linha reta,
traço de união.
Assimetria de linhas de dor e medo,
átomos e confusão de matéria.
Aqui o presentes
Lá...
Foi cobra e foi mãe
Traço de união
—aqui o presente e lá... —
entre o nada, a vida e nada, o além...
Foi cobra e foi mãe.
Rio de Janeiro, 1958
escrito aos 17 anos de vida.
Ilustração gerada por IA, por
Nildo Moreira, em 2025.
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