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Artista: Robson Corrêa de Araujo.

 

IR ALÉM

Ser
no que nunca fui,
estar
onde nunca estive,

Sair de si?|

e não mais regressar.

 

(MIRANDA, 2013, p. 11)

 

          “Exemplifaicaremos, com [este]  poema de Antonio Miranda do livro AR CÊNICO (2013), as particularidades dos correlatos sígnicos para visualizarmos a maneira como os mesmos se materializam na prática.

          O presente poema é de cunho intimista devido colocar em discussão a própria existência do sujeito. A partir do título e de cada linha poética, verificamos a inquietude do eu enunciador no momento em que ele exterioriza seus desejos. Os verbos de movimento apontam bem para os comportamentos audazes do eu lírico. A introdutória frase oracional demonstra a ousada intenção em avançar a grandes distância. O representamen central desse poema é o próprio eu, cujo objeto são as reflexões inquietantes sobre si mesmo e as conclusões proporcionadas por esses pensamentos designa o interpretante deste signo. Aprofundando as especificidades desses correlatos, temos o objeto imediato que é o eu versando sobre si e o objeto dinâmico é a sensação presumível obtida pelo eu pensando sobre si. Agora, tudo o que a frase expressa como um todo seria  interpretante imediato, por exemplo, “se no que nunca fui”. A qualidade extraída dessa ideia é o interpretante dinâmico, isto é, o efeito que essa frase tem sobre o intérprete, mas a significação completa e racional sobre a mesma adentra no campo do interpretante final. Neste poema, o que representa bem essa categoria é a atitude conclusiva de o eu desligar-se de si não mais regressar, ou seja, o sentimento adquirido com o interpretante gerou uma ação definitiva. Vemos que, nesse poema, o título e o último monóstico correlacionam-se semanticamente dando um efeito cíclico ao texto, porque quem vai além não pretende regressar  [ Ir além // e não mais regressar] . A ideia proporcionada pelo objeto dinâmico de ambas as sentenças desencadeia o interpretante final que é conquistar grandes distâncias.

          A ação da semiose, nesse poema, manifesta-se em diversas estruturas do texto: no jogo de palavras, na dinamicidade da mudança do verbo em sua forma nominal para sua forma conjugada no pretérito perfeito do indicativo “Ser no que nunca fui”, “Estar onde nunca estive”.  A indagação gerada pela voz poética sugere ao leitor a reflexão do desprendimento do eu. A isotopia de inquietação do estado d´alma do eu proporciona também esse efeito sígnico assaz dinâmico. Vemos um texto esguio com uma mensagem grandiosa, seria como um ser diminuto que anseia dimensões maiores que são bem compreendidas pela natureza do interpretante e assim o eu poético alcança o almejado: ir além. Todo esse modelo triádico inerente à natureza do interpretante, aliás, circundante à condição do signo em sua plenitude, desempenhará fundamental papel para que se venha traçar o perfil da classificação sígnica peirceana: as três tricotomias.

[Na tese, o autor avança discutindo a Tipologia Peirceana dos Signos  e apresenta o diagrama das “Tricotomias Peirceanas”, p. 42).

 

DIAS JUNIOR, Valter Gomes.  A poesia de Antonio Miranda e suas intersemioses.  João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de Pós-graduação em Letras, 2014.  268 p.  Tese de doutorado.    (TEXTO acima: p. 46-48)

 

 


 

 


 

 

 
 
 
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