BABEL
Poema de Antonio Miranda
Ilustração de Stephan Doitschnoff
I
Letras e letras formam as palavras.
Lavras infinitas. Todos os alfabetos do mundo
desunidos
todas as línguas
separadas.
Todas as frases possíveis
não foram
ainda
concebidas.
Frutos
da experiência
— que a
ignorância
limita.
Todos os vocábulos
todos os textos
são finitos,
circunscritos.
Tristan Tzara, acudi-me!
Recortai todos os jornais!
Maiakovisky, socorrei-me!
Montai cartazes, colai slogans,
expressões esquecidas.
Tudo no liquidificador.
Versículos, ventríloquos...
soprai provérbios no ventilador.
Sabe-o Heráclito, do quer que esteja,
almejas alvíssaras, vísceras,
flamas ao vento.
II
Todos os alfabetos reunidos
compilados
em glossários infinitos.
letras flutuantes aglutinando-se,
unindo-se
formando
vocábulos primevos
(ainda)
ininteligíveis
Todas as combinações imagináveis!
Muitas palavras por criar
muitos sentidos por descobrir
toda razão por superar!
Haja palavras novas
para novos saberes,
haja novos sentidos
para novos sentimentos,
pensamentos adventícios,
novas formas de ver e de sentir.
Sentir além das palavras
gerando novas palavras
e novos sentidos.
As palavras que temos
não bastam
se desgastam.
“Tanto podem as letras variadas”, brada Lucrécio.
“Tudo termina em livro”, garante Mallarmé,
ou dele gemina, expande-se.
Enciclopédia do saber,
um único Livro infinito,
resume Borges, da Babel
reconquistada.
Caracas, 21/03/2011
depois de participar da FLIVEN – Feira do Livro da Venezuela.