Edifício “A Noite”, sede da Radio Nacional do Rio de Janeiro...
Foto: O Dia
BASTIDORES
Poema de Antonio Miranda
I
Nos bastidores, talvez frisson ou frenesi,
também rancores, queixas, dissabores,
estar fora-de-si, com ciúmes, ti-ti-ti,
atores estressados, queixumes, ou calados
diante do espelho, tolos, fazendo caretas.
São marionetas, proxenetas, chacretes,
sonhos vãs, ilusões, assim medonhos
na frustração ou mesmo nas vitórias,
sob aplausos, apupos, na oração
consagradora depois da melhor atuação.
II
Mundo de ilusão e realidades fantasiadas,
também frivolidades, piadas, sensação
de impotência, ou desânimo, condescendência
com as incapacidades, limites, possibilidades.
Chacarinha, Silvio Santos, Faustão ou Hebe
ou Xuxa ou, antes, César de Alencar
no rádio ou na TV, no circo, no teatro,
em qualquer lugar, e para qualquer um.
Pernetas, piruetas, roleta-russa, vedetes.
Engulidores de facas, de pregos, de sapos,
de fogo. Em jejum, com fome, ânsias
e dores, contorções, flexões, esparadrapos.
Roda, roda, roda-viva, roda mundo,
Chacarinha girando a roleta, buzinando,
comandando a plateia ou a geleia geral...
Agora é galera, é fera, é pura curtição,
é corpo-a-corpo, fruição, corpos desnudos
na banheira, na cama, em exposição.
III
Silvio Santos comanda o show do milhão.
Xuxa convoca os baixinhos assanhados.
Há também ratos, leões, percevejos e
baratas comandando grandes auditórios...
Mulheres traídas, maridos ultrajados, todos
ao vivo, descortinando suas desventuras,
desgraças, a soldo, treinados, adestrados
e preparados para o circo-dos-horrores.
Rio de Janeiro - 2003
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