POESIA ERÓTICA
De
Manuel Maria de Barbosa du Bocage
BOCAGE
Ilustrado por Aldo Victorio Filho.
Rio de Janeiro: Codecri, s.d. 120 p.
(Col. ARTESetCETERA)
Edição meio clandestina de editora ligada ao PASQUIM, provavelmente burlando
os rigores da censura durante a Ditadura Militar de (1964... )
é hoje peça disputada pelo bibliófilos. Formato 27 x 21 cm.
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O MONSTRO
Esse disforme e rígido porraz
Do semblante me faz perder a cor:
E assombrado d´espanto, e de terror,
Dar mais de cinco passos para trás:
A espada do membrudo Ferrobrás
Decerto não metia mais horror:
Esse membro é capaz até de por
A amotinada Europa toda em paz.
Creio que nas fodais recreações
Não te hão de a rija máquina sofrer
Os mais corridos, sórdidos cações:
De Vênus não desfrutas o prazer;
Que esse monstro, que alojas nos calções,
E porra de mostrar, não de foder.
ARREITADA DONZELA
Arreitada donzela em fofo leito,
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras sutis pachacho estreito:
De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branca crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito:
A voraz porra as guelras encrespando
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrados:
Como é inda boçal, perde os sentidos;
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.
ADIVINHAÇÃO
É pau, é rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem se sobreiro:
Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;
Branco às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:
À roda da raiz produz carqueja;
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!
Para carvalho ser falta-lhe um V;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.
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SONETO INFERNAL
Dizem que o rei cruel do Averno imundo
Tem entre as pernas caralhaz lanceta,
Para meter do cu na aberta greta
A quem não foder bem cá neste mundo:
Tremei, humanos, deste mal profundo,
Deixai essas lições, sabida peta,
Foda-se a salvo, coma-se a punheta:
Este prazer da vida mais jucundo.
Se pois guardar devemos castidade,
Para que nos deu Deus porras leiteiras,
Senão para foder com liberdade?
Fodam-se pois, casadas e solteiras,
E seja isto já; que é curta a idade,
E as horas de prazer voam ligeiras...
Ó FORMOSURA!
Piolhos cria o cabelo mais dourado;
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado:
Pela boca do rosto mais corado
Hálito sai, às vezes bem asqueroso;
A mais nevada mão sempre é forçoso;
Que de sua dona o cu tenha tocado:
Ao pé dele a melhor natura mora,
Que deitando no mês pode gordura,
Féitdo mijo lança a qualquer hora:
Caga o cu mais alvo merda pura;
Pois se é isto o que tanto se namora,
Em ti mijo, em ti cago, ó formosura!
Extraído de
REVISTA GENTE DE PALAVRA. s/n. Porto Alegre, RS: Gente de Palavra Microeditora, fevereiro 2013
gentedepalavra@hotmail.com
Tiragem: 100 exs.
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