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POESIA ERÓTICA

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)–

Extraídos da primorosa edição de 500 exemplares, feita em 1958 exclusivamente para bibliófilos, pelas Edições Piraquê, hoje disputados em sebos e antiquários. Os versos de Bernardo Guimarães (1825-1884) circulavam clandestinamente, em forma manuscrita, sendo “erótico-cômicos”, até que saíram impressos em Ouro Preto, Minas Gerais, a 7 de maio de 1875: “No intuito de perpetuar estes versos de um poeta nosso bem conhecido, os fazemos publicar pela imprensa, o que sem dúvida pode salvar do naufrágio  do esquecimento poesias tão excelentes em seu gênero, e cuja perpetuidade alguns manuscritos, por aí dispersos e raros, não podem garantir das injúrias do tempo”, informa o editor anônimo.                                              

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)–

Que tens, caralho, que pesar te oprime
Que assim te vejo murcho e cabisbaixo,
Sumido entre essa basta pentelheira,
Mole, caindo pela perna abaixo?

Nessa postura merencória e triste,
Para trás tanto vergas o focinho,
Que eu cuido vais beijar, lá no traseiro,
         Teu sórdido vizinho!

Que é feito desses tempos gloriosos,
Em que erguias as guelras inflamadas<
Na barriga me dando, de contínuo,
         Tremendas cabeçadas?

Um cabaço! que era este o único esforço,
Única empresa digna de teus brios;
Porque surrados conos e punhetas
         São ilusões, são petas,
Só dignas de caralhos doentios.

Quem extinguiu-se assim o entusiasmo?
Quem sepultou-te nesse vil marasmo?
Acaso pra o teu tormento
Endefluxou-te algum esquentamento?

Ou em pívias estéreis te cansaste,
Ficando reduzido a inútil traste?
Porventura do tempo a destra irada
Quebrou-te as forcas, envergou-te o colo,

E assim deixou-te, pálido e pendente,
 Olhando para o solo,
Bem como inútil lâmpada apagada
Entre duas colunas pendurada?
 

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)–


Estava Vênus gentil junto da fonte,
           Fazendo o seu pentelho
Com todo o jeito, pra que não ferisse
           Das crinas o aparelho.

Tinha de dar o cu naquela noite
           Ao grande pai Anquises,
O qual com ela, se não mente a fama,
          Passou dias felizes.

Lavava bem o cu, pois resolvia
          Na mente altas ideias:
Ia gerar naquela noite heróica foda
         O grande e pio Enéias.

Mas a navalha tinha o fio rombo,
         E a deusa, que gemia,
Como quem espremia uma cagada,
         Caretas mil fazia.

Nesse entretanto a ninfa Galatéia
         Acaso ali passava,
E vendo a deusa assim tão agachada<
         Julgou que ela cagava.

Ora porra! — bradou a deusa irada,
         E nisto o rosto volta;
A ninfa, que conter-se não podia,
         Uma risada solta.

A travessa menina mal pensava
        Que com tal brincadeira
Ia ferir a mais mimosa parte
         Da deusa regateira.

Já ia arrependida aos pés prostrar-se
         De Vênus indignada;
Mas esta ardendo em fúria a nada atende
         E em rouco tom lhe brada:

“Vê que fizeste, desastrada ninfa?
        “Que crime cometeste?
“Que castigo há, que puna um atentado
        “Enorme como é este?...

Assim por mais de um mês inutilizas
        “O vaso das delícias;
“Em que hei de empregar das longas noites
        “As horas tão propícias?...

“Ó pai potente, ó Júpiter tonante,
        “E tu, Mavorte invicto,
“Meus rogos escutai, acudi prontos
        “De minha dor ao grito.

“Este cono que agora eu pretendia
        “Levar bem fresco e limpo
“A fartas de prazeres toda a chusma
        “Dos deuses do alto Olimpo.

“Vede em que triste estado... Ah! que esta vida
        “Em sangue já esvai-me!
“Ó deuses que quereis ter foda certa,
        “Vingai-vos e vingai-me.

Ó ninfa, o cono teu sempre atormentem
        “Perpétuas comichões...
“E não aches jamais quem nele queira
        “Vazar os seus colchões!

“Fique esse cu largo e escancarado,
        “Que o mesmo deus Príapo
“Sinta nele folgado e pequenino
         “O burrical marzapo.

“Em negra podridão imundos vermes
        “Roam-te sempre a crica,
“E à vista dela sinta-se banzeira
       “A mais valente pica.

“De eterno enquentamento flagelado
       “Verta fétidos jorros
“Que faça horror e nojo a todo mundo,
        “Até mesmo aos cachorros”.
 

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)–


“VINDE, ó putas  e  donzelas,
Vinde abrir as vossas pernas
Ao meu tremendo marzapo,
Que a todas, feias ou belas,
Como caralhadas eternas,
Porei as cricas em trapo.
Graças ao santo elixir,
Que herdei do Pagé bandalho,
Vai hoje ficar em pé
O meu cansado caralho!


A ORIGEM DO MÊNSTRUO

ESTE elixir milagroso,
O maior mimo da terra,
Em uma só gota encerra
Quinze dias de tesão;
Do macróbio centenário
Ao esquecido marzapo,
Que já mole como um trapo
Nas pernas balança em vão,
Dá tal força e valentia,
Que só com uma estocada
Põe a porta escancarada
Do mais rebelde cabaço,
E pode um cento de fêmeas
Foder de fio a pavio,
Sem nunca perder o brio,
Sem nunca sentir cansaço.

Eu te adoro, água divina,
Santo elixir do tesão,
Eu te dou meu coração,
Eu te entrego a minha porra,
Faze, que ela sempre tesa,
E em tesão sempre crescendo,
Sem cessar viva fodendo,
Até que fodendo morra.
Sim faze que este caralho,
Por tua santa influência,
A todos vença em potência,
E com gloriosos abonos
Seja logo proclamado
Vencedor de cem mil conos.
E seja em todas as rodas
De hoje em diante respeitado,
Como herói de cem mil fodas,
Por seus heróicos trabalhos
Eleito Rei dos caralhos.

SUS caralho, este elixir
Ao combate hoje te chama,
E de novo ardor se inflama
Para as campanhas de amor!
Não mais ficarás à toa
Nesta  indolência tamanha,
Criando teias de aranha,
Cobrindo-te de bolor.

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)–
Fábula inédita de Ovídio, achadas nas
escavações de Pompéia e vertida em vulgar
PR Simão de Nântua.

 

E AO som das inúbias
Ao som do boré,
Na taba ou na brenha,
Deitado ou de pé,
No macho ou na fêmea
Fodia o Pagé.

Se a inúbia soando
Por vales e outeiros,
À dança sagrada
Chamava os guerreiros,
Nos grau prazenteiros,
De noite ou de dia
Ninguém jamais via
O velho Pajé,
Que sempre fodia
Na taba ou na brenha,
No macho ou na fêmea,
Deitado ou de pé.

E o duro marzapo,
Que sempre fodia
Qual rijo tacape,
A nada cedia!
 

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)–


VASSOURA terrível
Dos cus indianos
Por anos e anos
Fodendo passou,
Levando de rojo
Donzelas e putas,
No seio das grutas
Fodendo acabou!
E com sua morte
Milhares de gretas
Fazendo punhetas
Saudosas deixou!...


FELIZ caralho meu, exulta, exulta!
Tu, que aos conos fizeste guerra viva,
E nas guerras de amor criaste calos,
         Eleva a fronte altiva.
Em triunfo sacode hoje os badalos,
Alimpa esse bolor, lava essa cara,
         Que a Deusa dos Amores,
         Já pródiga em favores,
Hoje novos triunfos te prepara.

PORÉM não é tempo ainda
         De esmorecer,
Pois que teu mal ainda pode
         Alívio ter.

Ao som das inúbias,
Ao som do boré,
Na taba ou na brenha,
Deitado ou de pé,
No macho ou na fêmea,
De noite ou de dia,
Fodendo se via
o velho Pagé!

MAS neste trabalho,
Dizei, minha gente,
Quem é mais valente.
Mais forte quem é?
Quem vibra o marzapo
Com mais valentia?
Quem conos enfia
Com tanta destreza?
Quem fura cabaços
Com mais gentileza?

OUVIU-LHE estas palavras piedosas
         No Olimpo o grão tonante,
Que uma pívia ao sacana Cupido,
         Comia neste instante.

Comovido no íntimo do peito
         Das lástimas — que ouviu,
Manda ao menino que depressa acuda
         À puta que o pariu:

Ei-lo que pronto tange o veloz carro
         De concha alabastrina,
Que quatro aladas porras vão tirando
         Na esfera cristalina>

Cupido, que as conhece, as rédeas bate
         À rápida quadriga;
Com a voz ora as alenta, ora com a ponta
         Das setas as fustiga.

Já desde aos bosques, onde, a mãe aflita
         Em mísera agonia
Com sangue de seu cono o verde musgo
         De púrpura tingia.

NO carro a toma, e num momento chega
         À olímpica morada,
Onde a turba dos Deuses reunida
         A espera consternada.

Vulcano, vendo o estado da consorte,
         Mil pragas vomitou;
Marte, zangado, deu tamanhos berros
         Que o céu todo atroou.

Vendo o rival sorriu-se a furto,
         Lembrando o antigo pleito,
Minerva fingindo dó; mas lá consigo
         Resmoneou — Bem feito!

Já Mercúrio os emplastros aparelha
         Para a venérea chaga
Contente por saber que de tal cura
         Terá bem certa a paga.

Coube a Apolo lavar dos roxos lírios
         O sangue que corria;
E o terrível tesão que o atormentava,
         Conter já não podia.

JOVE sustém a filha em seus joelhos,
         A cinge com os seus braços,
Com palavras a alenta, com sorrisos,
         Com beijos, com abraços.
 

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)–


Depois subindo ao Trono rutilante
         Com carrancudo aspecto,
Destarte fala em voz altissonante,
         E lavra este decreto:

“Ouvi, ó filha, os  teus justos lamentos,
         “E agora sem detença
“Para castigo desse enorme crime,
         “Vou lavrar a sentença.

“Não chores filha, que esse ultraje feito
         “Ao teu divino cono
“Será vingado, e tudo o que disseste
         “Agora sanciono.

“Mas ainda é pouco; a todas as mulheres
         “Estenda-se o castigo
“Para expiar o crime que esta infame
         “Ousou para contigo.

PARA punir tão bárbaro atentado,
         “Toda a humana crica
“De hoje em diante, lá de tempo em tempo,
         “Escorra sangue em bica.

“E para memória eterna chore sempre
         “O cono da mulher
“Com lágrimas de sangue e caso infando,
“Enquanto mundo houver.

“Amém!  amém! Com voz atroadora
         Os deuses todos urram;
E os ecos das olímpicas abóbodas
         “Amém! amém!” sussurram.
 

Página publicada em janeiro de 2009



 

 

 
 
 
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