HIRAN CÉLIO DE MONÇÃO
Nasceu em Marabá, em setembro de 1922. Estudou em Belém até a 5a série; abandonou os estudos, ingressou na Marinha e serviu durante 3 anos no Rio de Janeiro. Em seguida, retornou a Marabá. Boémio, cantor, violonista, era, no entanto, um poeta triste. Segundo o jornalista António Bastos Morbach, o Sinhozinho, citado por Virgínia Mattos, "Hiran de Monção trazia na alma um continuado desespero. Seus versos, ou traduziam o desencanto ou a revolta. Um dia, depois de ter cantado com sua bela e harmoniosa voz uma valsa romântica, pôs com uma bala o ponto final à sua vida". Hiran de Monção matou-se no dia 9 de janeiro de 1941, na casa dos pais, em Marabá.
De
BRAZ, Ademir, org. Antologia Tocantina. Marabá, TO: Grafecort, 1998. 184 p.
A vida
Devassa prostituta do destino,
filha bastarda e má da Divindade;
Es o resíduo amargo do intestino
dessa pantera horrenda- a Humanidade!
Degenerado aborto adulterino
da Criação! Essência da maldade
desde o existir da vida intra-uterina,
és o instrumento da fatalidade!...
No desespero da existência incalma
maldigo os deuses que me deram alma
e me entregaram, sem defesa, à vida!
É felizardo o que já nasceu morto;
não lhe manchara abençoado aborto
dessa Lucrécia, a mãe prostituída!
(Revista Safra Ilustrada, jan/1951)
Eu
Filho da carne putrefata e impura
estátua podre de excremento e barro,
trago no crânio o estigma da loucura
e o pus da morte existe em meu escarro.
Desta fumaça azul do meu cigarro
fogem bacilos da garganta escura.
Meu peito é um cofre imundo de catarro
onde se esconde um velho mal sem cura.
Milhões de germes trago no organismo
que em miserando e infame comunismo,
vão destruindo, aos poucos, meus tecidos.
Trago no corpo gangrenoso a essência
de toda podridão que há na excrescência
-glândulas, nervos, sangue apodrecidos...
(Revista Itatocan, maio/l 953)
Página publicada em dezembro de 2011
|