Um dia,
alguém passando ao largo
viu teu sexo exposto no vértice destes rios.
Tuas pernas grossas de Tocantins
descansando em praias.
Teu ventre coleante de Pirucaba.
E alguém te possuiu,
cunhatã rica de cauchais e castanhais
nativos, com cipós-paus descendo
em teu pescoço de árvore-mogno.
Te tornaste dissoluta- Messalina do Tocantins,
com gestos de pajelança
abrindo as pernas na porta do Cabelo Seco.
Um dia, negro Basilão te botou um olhar de quebrar
E veio da boca do Sororó
um hálito quente de malária.
Veio vindo, veio vindo, veio vindo...
começaste a plantar homens no teu ventre,
trémulos do frio da sezão do teu fascínio.
Depois os mataste com a tua cabo-de-tala,
com teu quarenta-e-quatro,
nas tuas salas de festa do povo,
Jurema, Pindura-Saia, Barro Branco...
Agora, tu te divertes com música alienígena
e assassinas em massa
na sala vasta do teu latifúndio.
Ficaste louca, Marabá!
Trocaste tuas tranças verdes
de árvores seculares
pela peruca rala do capim.
Os teus rios já nem correm, constrangidos por barragens
onde teu último mito se afogou de vergonha
no perau do Vita Eterna.
A sinfonia do Capitariquara foi abafada
pelas águas do rio que atrofiaram
e o rock & roll azucrina teus ouvidos.
Ainda tão nova e já és saudade.
Saudade do que tu foste
nos teus varjões, nas tuas matas,
onde o passo aveludado da onça
demarcava a fronteira da nossa herança.
Ex-amante de posseiros, puta do latifúndio,
tentas te matar ria fogueira da tua inconsequência.
E já nem és mais castanheira, caucheira,
mulher de tropeiro, colecionadora de folclore.
De ti, resta somente um tambor do Divino
batendo a nossa saudade lá da Santa rosa.
Teus dentes, brancos dos diamantes do Jaú,
estão ficando amarelos pela nicotina do ouro.
E hoje és apenas uma Serra.
Pelada. Nada mais.