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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SILVIO ROMERO

 

SILVIO ROMERO
(1851-1914)

 

 

SYLV1O ROMÉRO Nasceu na cidade do Lagarto, Sergipe, a 21 de abril

de 1851. Bacharel em direito pela Faculdade do Recife. Lente das Faculdades de Direito do Rio de Janeiro e do Collegio Pedro II. Critico, historiador e poeta. Membro da Academia Brasileira, onde occupa a cadeira de Hippolyto da Costa.

 

BIBLIOG. — Cantos do fim do século. Rio, 1878 ; Últimos harpejos. Porto Alegre, 1885.

 

 

A POESIA NA ESCOLA. Coletânea das poesias sugeridas pelos programas de Ensino  primário elementar. Belo Horizonte: Secretaria de Educação, Estado de Minas Gerais,  Imprensa Oficial, 1956.  177 p.  14x21 cm.   "Para distribuição gratuita às escolas primárias do Estado."                             Col. bibl Antonio Miranda

 

Poesia  infantil recomendada para leitura em classe

– 1ª. SÉRIE:

 

 

XÔ, PASSARINHO

                  Sílvio Romero

 

Xô, passarinho,
Saia fora do meu arrozal!
Você não me ajudou a plantar,
Você não me ajudou a colher!

Você não me ajudou a aterrar,
Nem me ajudou a cortar!
Mas quando meu papá vier,
Em tudo hei de contar...

 

 

A VIOLA

 

Quanto eu te amava, oh ! rustico instrumento

Tu que as maguas, as dores allivias

Da sertaneja em mansas melodIas,

Inda hoje me vens ao pensamento !...

 

Puro e boro. despertava o sentimento,

A alma dourando, como doura os dIas

O sol — nosso conviva... e tu vertias

Teus gemidos subtis todos ao vento...

 

Companheira querida das matutas,

Confidente fiel de seus desejos,

De seus sonhos de amor, serenas lucias,

 

Como és boa da roca nos festejos,

Quando as morenas languidas, astutas,

Afinara pela prima o som dos beijos !...

 

 

SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX.

 

Extraído de SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX. Colletanea organisada por Laudelino Freire.  Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cie., 1913

 

 

O INFERNO

 

Grande... em sua fornalha os séculos ardem

A seiva dos rebeldes lá fumaça ;

E sempre o diabo, interprete profundo,

Bebe o licor da vida em negra taça.

 

E' incêndio voraz... quem disse?... Engano

E' o gênio gastando as excrescencias,

Que a todo vulto athletico sustentam

E gostam de morar nas eminencias.

 

E todos os gigantes destemidos,

Que se arrojam intrépidos na vida,

Tendo na fronte a pegada do enygma,

Hão de passar por baixo da medida...

 

                   (1878).                

 

 

 

 

A   A L M A

 

 

I

Aqui da fronte é que desponta a aurora,
Aqui do peito só que o amor se exala;
Grega sublime, Psiquê formosa,
Num sonho doce quem te ouvira a fala,
0 riso meigo, o harmonioso anseio
Dos teus enlevos!... Nas madeixas tuas
Ah! quem pousara de um suspiro, ao menos,
O tê
nue mimo... nas espáduas nuas!

 

Mas, sonhadora, que altivez é essa?
Deixando os lábios, vais beijar as flores?
Dá que o teu seio deslumbrante e meigo
Nos mostre a vida dentro em seus fervores,
0 vento fresco das manhãs saudosas,
O azul da vaga, que desperta agora,
Todo o sussurro, que os jasmins ondeiam,
Por tuas graças é que tudo adora.

 

Oh! bela imagem das ternuras brandas,

O teu perfume pelo céu foi feito;

Tu, que acordaste de uma cisma aos frocos

Envolta, e nua do sidéreo leito,

Lindo o teu corpo, que as paixões desfolhas

Já de cansadas de te ver ausente,

Dize - nas dobras de teu seio - oculta

Também uma alma não palpita e sente?

 

 

                                               II

 

Como que a vida se evapora em risos,
Lá no sacrário dessa noiva santa!
As nuvens louras dos cabelos soltos,
Rosada a boca, que as manhãs encanta,
Inda mais bela se às estrelas fala,
Não... não é tudo... mas o puro espanto
 Dos seus olhares, que refletem mudos
A glória e a sorte em divinal quebrando?!

 

Sim, ver-lhe o corpo, na expressão de um sonho,

Tingida a neve pela cor das rosas,

Tão transparente, que a sua alma em êxtase

Mostra-se toda nas feições mimosas,

Ver como um susto lhe descora a face,

Como um anelo lhe intumesce o seio,

É ter a fronte sepultada em brilhos

Longe os mistérios desvendando a meio. —

 

Sentir-lhe a vida perfumosa, em ondas
Rolando cheia, borbulhando em flores,
E sob o colo lhe ver a alma aberta
Em seus eflúvios, lá nos seus fulgores,
Belo espetáculo! E como todo o riso
São devaneios, são caprichos vagos,
Como os desejos os ondulamentos
De alguma idéia que suspira afagos!...

 

 

III

 

O céu brilhante dessa plaga helênica
Sopra a bafagem perfumosa e amena,
E lá dos astros desce o encanto fúlgido,
A paz, a calma, a mansidão serena.
E com os enleios de sereia lânguida,
E com os arroubos de bacante louca,
Todos os sonhos, palpitantes, túmidos,
Abrem as asas... A amplidão é pouca!

 

É da alma a empresa. Que expansões suaves!
Assim Homero devassara a sorte,
Platão entrava na surtida, às vezes,
Trazendo sempre mais um raio forte.
Aqui da América na agitada arena
Cada um suspiro traz um céu no fundo,
A cada idéia não sacia um astro,
Que nós sentimos vacilar o mundo.

Sim, nós provamos que o tufão que passa
Traz-nos de longe alguma nova infinda;

Que a flor aberta à madrugada amável

Sabe um segredo que não disse ainda.

Voai desejos! aquecei-vos todos

À luz sagrada deste sol que brilha,

Mas que parece que também procura
D'outras grandezas a sonhada trilha.

 

  De Cantos dofim do século (1878)

 

 

Página publicada em junho de 2009; ampliada em janeiro de 2020

 


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