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SILVA RIBEIRO FILHO
José da Silva Ribeiro Filho nasceu em Aracaju, na rua de Japaratuba (atual João Pessoa) em 15 de janeiro de 1907, e morreu em Aracaju, em 10 de setembro de 1976, poucos dias depois de receber, no leito de dor e de sofrimento, seus amigos e admiradores, de todas as idades. Viveu exemplarmente. Filho do coronel José da Silva Ribeiro, rico comerciante e mecenas da literatura, conviveu desde muito jovem com a atmosfera de homens de letras, no jornalismo, no magistério e nas obras publicadas, reunidos sob a égide da Hora Literária. Quando a entidade mudou para o bairro Santo Antonio, ele mudou com ela, sem perder o contato direto com os seus integrantes, salvo quando foi estudar Direito na Bahia, morando na Pensão de Alexandre Freifer, onde convivia com outros sergipanos, atraídos pelos fascínios das ruas e das noites de Salvador.
Professor de Direito, e Diretor da Faculdade de Sergipe, José da Silva Ribeiro Filho deixou seu nome destacado na relação dos grandes mestres, que honraram a tradição tobiática e ensinaram, mais que a doutrina, como um acervo comum, levaram às salas de aula a reflexão, na busca de renovar, no cotidiano dinâmico da sociedade, a cidadania, como um objetivo permanente, que é mesmo a representação da luta pelo Direito, no sábio enunciado de Jhering, propagado por Tobias Barreto e pela Escola do Recife. Na Justiça do Trabalho, o juiz reto, ilustrado, admirado por todos, soube cumprir um longo percurso do seu ofício, harmonizando-se com atividades outras, públicas, e com o engajamento, já antigo, com as causas da vida ilustrada de Sergipe.
REVISTA DE LITERATURA BRASILEIRA – LB 49– São Paulo, SP: 2008. Direção: Aluysio Mendonça Sampaio. Ex. bibl. Antonio Miranda
Velho bairro
(A Maria Riia S. de Andrade)
Aqui floriram tantos dos meus sonhos
Tantas das minhas ilusões de outrora!
Trechos azuis da vida... recompondo-os,
Sofra, com isso, muito mais embora.
Ó velhas casas de beirais tristonhos,
Com que saudade vos relembro agora!
Foram-se as andorinhas, como os sonhos,
Asas cansadas, pelo espaço em fora.
Aqui respiro o aroma do passado
Com a sofreguidão do desterrado
Que revisse, um momento, os céus natais.
E, qual se fosse como dantes eras,
Ao nosso antigo mundo de quimeras
Ansioso volto... e não te encontro mais..
Velho mar
(A Wilma Guimarães Rosa Reeve)
Desde o Princípio... o mar contra o rochedo,
Qual se trouxesse a predestinação
De pelejar, de pelejar sem medo
— os nervos de aço, como o coração!
Guardam seus olhos verdes o segredo
Das estranhas manhãs da Criação.
Supremo Drama! Quem lhe sabe o enredo,
Quem fez, do seu desfecho, a predição?
Porém, velho Titã que não perece,
O mar também se humilha e se enternece,
Misto de Penitente e Trovador!
Ora muda em canções os seus bramidos,
E sem chorar o pranto dos vencidos,
Bendiz — Monge e Poeta — a própria dor.
Página publicada em setembro de 2019 |