Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SANTOS SOUZA

SANTOS SOUZA

 

 

 

José dos Santos, nasceu em 27 de janeiro de 1919. Aos 13 anos, o menino Santo Souza já falava de amor em seus poemas. José Santo Souza ilustre filho de Riachuelo um dos maiores poetas vivos do país, viveu em sua cidade natal até os 17 anos trabalhando em farmácia, e em Aracaju, ele continuou trabalhando no ramo onde aprendeu a manipular medicamentos com a mesma maestria que o conservou na função por 26 anos. Somente em 1938 ele retornou à poesia.


 

 

CANTO II

 

Ah, ousamos reger o mar sagrado

para onde a noite inválida se afasta

com a partitura efêmera das horas!

Treme no aquário nossas mãos. O rio

torna a mover-se, envolve nossos pés,

restaura o amor na imagem fugidia

de nossos olhos ímpios e vulgares,

e um riso antigo vem doer na bpca

da sibila cruel que nos desata

o nó da liberdade que ansiamos.

 

Que surpresa incontida nos impele

e faz que penetremos insubmissos

nestes vales revoltos, nestas dunas,

neste vasto silêncio encarcerado

em templos e oceanos que não vemos?

Outrora aqui tecemos com paciência

lendas heróicas, lagos, e as palavras

com que reconquistamos o segredo

da noite inicial, e construímos

com a sua tessitura a eternidade.

 

Aqui com nossas lágrimas regamos

chão, firmamento, rios. Dissolvemos

a luz da aurora em nossas amarguras.

E, para dissipar o espesso tédio,

dilatamos o cerco do horizonte

para além das colunas demarcadas

pelo Eterno que, agora, nos contempla

e soma o nosso esforço, esta agonia

em que nos vamos iludindo a vida

com sangue, pedra, fel e poesia.

 

Mas onde os nossos mares? Onde as naves

que nossas mãos domavam, contornando

suas ondas e praias, suas vozes,

a sinfonia mágica das águas,

o rodízio das noites, a cantiga dos afogados, o sorriso e o choro

das crianças perdidas, navegando

nos braços das sereias, e a tristeza

de Deus, ao perceber nosso fracasso

no mar que ele nos dera e nós perdemos?

 

Era vasto o domínio. Nosso olhar

limitava o destino das fronteiras

por onde a morte inútil circulava.

Calculamos o tempo e o esperdiçamos.

Fomos tardos no avanço, e cedo vimos

fugir de nossas mãos o leme, e a rota

se perdeu. Nosso canto, diluído

nas águas, já não rege o itinerário

desta sagrada luta que engendramos:

perdido o jogo, a morte nos suplanta.

 

                                                                                  de ODE ÓRFICA

 

 

 

BALISA

 

Cravar a estrela no chão

e dizer à noite: agora,

afaste-se a escuridão

que eu vou chegando com a aurora.

 

E fazer brotar da terra

- da terra que tudo faz –

não a treva e o ódio da guerra,

mas a luz e o amor da paz.

 

Que eu vim traçar nos caminhos

(invés de dor e agonia)

a rota livre dos homens

com as tintas claras do dia.

 

 

de auroras,

noites

e sereias

 

 

Jogo os dados no mar, como quem joga

a sorte das estrelas ou do vento,

e fico a embaralhar as ondas, como

o lúcido hierofante que desvenda

 

 

nas cartas o destino dos mortais.

Não sei qual é a carta-chave, mas

capto o sentido exato e a voz de quem

profere a frase mágica de tudo.

 

 

E se há no fundo náufragos que vão

com dedos ágeis folheando páginas

de noites e de auroras impossíveis, 

 

 

                            na superfície há sempre olhos profanos

                                 de peixes e sereias, traduzindo

                                      o jogo de meus dedos sobre o mar.

 

 

 

***

 

 

 

REVISTA DA LITERATURA BRASILEIRA   LB 46  São Paulo: 2007.  Direção: Aloysio Mendonça Sampaio.  Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

         ELEGIA NÚMERO 2

       Vinde mães tardias
vinde homens dissolutos
vinde estrelas caídas
anjos circunspectos e aflitos
sereias da madrugada
vinde todos apagar o incêndio
que as minhas mãos atearam
na cabeleira vermelhas dessas ondas
que os mares estão movimentando
desesperadamente.
Vinde enquanto é cedo
enquanto as amarguras está líquidas
enquanto Deus não desce chorando
pelos degraus ensanguentados deste mundo
enquanto ainda posso conter o soluço
que milhões de corações estão despedaçando...

****

Dois poemas extraídos do artigo: SANTO SOUZA – I”, de Fontes de Alencar, publicado no JORNAL DA ANE – Associação Nacional de Escritores – Ano IX, n. 60, p. 12:

 

 

URNA FANTÁSTICA

 

Venho de longe... - Em minhas mãos queimadas

Trago a cinza de céus crepusculares!

Nos olhos, trago noites e alvoradas

e, na alma, os sons da eterna voz dos mares.

 

Trago lírios de luz... Trago irisadas

ondas de sóis, desfeitas em colares.

E, aceso, o pálio azul das madrugadas

para cobrir os tronos e os altares.

 

Trago o silêncio! E à paz! E a luz que ondeia

dentro dos astros - esses grãos de areia,

orvalhados de névoa e de harmonias...

 

E urnas de sonhos, clâmides de estrelas,

Trago-as de longe para oferecê-las

a esses que vêm com as pobres mãos Vazias!

 

 

RIO FANTASMA

 

Rio morto no tempo... Rio aberto

sobre um lençol de pedras e de areia

onde o fogo dos astros cambaleia

com os passos dúbios do darão incerto.

 

As suas águas não mais ouvem, perto,

nem soluços, nem vozes de sereias...

E, além, nas margens áridas, campeia

um silêncio de morte num deserto.

 

Rio remoto... Lírico, profundo,

onde os sonhos mais velhos deste mundo

soluçam lá por dentro, encarcerados...

 

Rio fantasma! Rio de águas turvas,

onde se vê, coleando pelas curvas,

o reflexo dos astros assombrados...

 

 

SANTO SOUZA I e II
( Fontes de Alencar )


Segundo o poeta e crítico Fontes de Alencar, Santo Souza, “autodidata, alcançou largo conhecimento, inclusive de idiomas estrangeiros; e nos legou considerável acervo biblíaco de poesias e crônicas. Estreou em livro com Cidade Subterrânea, de 1953, que Câmara Cascudo prefaciou e José Augusto Garcez apresentou; no ano seguinte surgiu a primeira edição de Caderno de Elegias.” Selecionou estes dois sonetos:

 

URNA FANTÁSTICA

Venho de longe... — Em minhas mãos queimadas
Trago a cinza de céu crepusculares!
Nos olhos, trago noites e alvoradas
e, na alma, os sons da eterna voz dos mares.

Trago lírios de luz... Trago irisadas
ondas de sóis, desfeitas em colares.
E, aceso, o pálio azul das madrugadas
para cobrir os tronos e os altares.

Trago o silêncio! E a paz! E a luz que ondeia
dentro dos astros — esses grãos de areia,
orvalhados de névoa e de harmonias...

E urnas de sonhos, clâmides de estrelas,.
Trago-as de longe para oferece-las
a esses que vêm com as pobre mãos vazias!

 

RIO FANTASMA

Rio morto no tempo... Rio aberto
sobre um lençol de pedras e de areia
onde o fogo dos astros cambaleia
com os passos dúbios do clarão incerto.

As água não mais ouvem, perto,
nem soluços, nem vozes de sereias...
E, além, nas margens áridas, campeia
um silêncio de morte num deserto.

Rio remoto... Lírico, profundo,
onde os sonhos mais velhos deste mundo
soluçam lá por dentro, encarcerados...

Rio fantasma! Rio de águas turvas,
onde se vê, coleando pelas curvas,
o reflexo dos astros assombrados...

 

Fontes de Alencar insiste: “É forte a inventividade poemática de Santo Souza, e sua versificação alcança, não poucas vezes, superior beleza.” Mais dois poemas do livro Caderno de Elegias, na 2ª. edição, com dois poemas acrescidos aos textos originais:

 

ELEGIA NÚMERO 16

Criaram flores de existência efêmera,
criaram noites e auroras nos caminhos,
aquários musicais para a canção
e estátuas para a vida e para a morte.

Criaram o teto do céu que sustentamos
em colunas de estrelas e de mares
e os rios que afagamos, derramando
a poesia da vida em nossas mãos.

E criaram também rios insones
que as nossas mãos jamais hão de acolher:
criaram faces com sulco para as lágrimas,
pois havia corações para sofrer.

Mas sob o teto do céu que sustentamos
nós somos flores de existência efêmera
e — estátuas para a vida e para a morte —
nos deram olhos humanos para o pranto!

 

ELEGIA NÚMERO 25

A princípio, era uma gota minúscula
de sangue se movendo
na terra misturada com o suor e as lágrimas do homem
uma gota de sangue viva como uma
estrela palpitando na pele negra do céu
queimado pela noite
uma  gota de sangue florescendo no chão de minha sala
e avolumando-se como um demônio
de cem braços querendo me sufocar
— uma gota de sangue riscando sua dolorosa mensagem
vermelha nas paredes.

Nem um ruído que viesse arrastar para longe
o marasmo doentio do mau bairro.
Nem um vento para puxar pelos cabelos
as ondas que se afogaram na quietude das águas.
Apenas uma gota de sangue está crescendo diante dos meus olhos
uma gota de sangue florescendo no chão de minha sala
e dentro de alguns instantes há de inundar minha rua
e ultrapassar os limites da cidade
— Ah! Nesse momento, a morte há de vir dançar conosco,
para que esqueçamos depressa  o nosso pranto
e então pisaremos alegres e sadios
a coroa estrelada da noite que vem nos perseguindo.

 

Extraído de:
ALENCAR, Fontes.  Santo Souza II.  Jornal da ANE, outubro – novembro  2014, p. 12.
ALENCAR, Fontes.  Santo Souza II.  Jornal da ANE, dezembro 2014 – janeiro 2015, p. 12.

 

 

SOUZA, SantoConcerto e arquitetura.  Aracaju: Prefeitura de Aracaju – DEC – Divisão de Cultura, 1974. 96 p. 13,7x18,5 cm.  Inclui apresentação: “O poeta Santo Souza”, por  Jackson da Silva Lima e a “Bibliografia prévia de Santo Souza, por J. A. Garcez.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Moça chamada Rosa

 

Impossibilitada de viver,
impossibilitada de morrer,
a empregadinha voa da
janela azul do décimo
andar e se transforma
numa dolorosa máquina
de pranto e de estupor:

 

 

— N M   D L R S   M Q I A

      U A   O O O A  A U N

    D   P A T  E   E  D    S U O

      E   R  N O        E  E T P  R

 

De repente os telégrafos
 do mundo anunciam a
heroica aterrisagem

da louca aviadora num

monte ele lágrimas breves.
E do fundo da sarjeta,

das estalagens da lama

um obscuro nome
de mulher se transfigura
em manchetes de sangue
nas páginas dos jornais:

 

—MOÇA CHAMADA ROSA VOA E VIRA NO ASFALTO ROSA ENSANGUENTADA".

 

 

a construção da manhã

 

Vai diluindo-se o negro
 sangue da noite assassinada
 no asfalto, e já não é
 possível conter a invasão

A última estrela crava
 o fulgor de sua lâmina
 impalpável na escura
 superfície da imensa
 miséria do subúrbio

e o dourado espanador
 da aurora tenta vasculhar

a tristeza das casas acordadas.

A cidade mama o leite
 das primeiras notícias

no peito coletivo de uma
 emissora qualquer, e

rumores de passos de
 homens e de máquinas

vão compondo uma nova
 canção de aço e de amargura

no berço sobressaltado da manhã.

 

 

 

DOCUMENTÁRIO SOBRE SANTO SOUZA:

http://youtu.be/wZm4-fnaFDY

 

Página publicada em junho de 2010, ampliada e republicada em maio de 2014

 

 

Voltar para o topo da página Voltar para a página de Sergipe

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar