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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

PEDRO DE CALASANS

 

 

Nasceu o poeta no famoso engenho Castelo, propriedade da família de seu pai, e iniciou os seus estudos no Liceu de São Cristóvão, completando-os no Recife (PE). Aos 16 anos publica "Adeus!", seu primeiro livro de poesias, e começa a contribuir para alguns periódicos da região.

 

Segundo Sílvio Romero, enorme foi o prestígio desfrutado por Calasans nas rodas literárias de Pernambuco. "Páginas Soltas" é publicado quando, em 1855, ingressa na Faculdade de Direito do Recife, na qual veio a bacharelar-se a 16 de dezembro de 1859. De volta à terra natal, então com 22 anos, ocupa interinamente a promotoria da comarca de Estância (SE), casa-se com rica herdeira, mas logo se separa.

 

É eleito deputado geral para a legislatura de 1861-1864 quando, ao ser absorvido pelas lutas partidárias, deixa o convívio das musas para dedicar-se à advocacia e a imprensa na capital do Império, onde se fez conhecido como atuante jornalista. No mesmo ano parte para a Europa, onde percorre vários países e retoma a publicação de seus livros: "Ofenísia", em Bruxelas, "Uma Cena de Nossos Dias" (drama em quatro atos) e "Wiesbade", sua obra mais conhecida, ambas em Leipzig, Alemanha.

 

De volta ao Brasil, em 1867, abandona a política e é nomeado juiz municipal de Caçapava (SP), onde publica mais quatro livros escritos durante a sua excursão pelo velho continente: "A Campa e a Rosa", tradução de Victor Hugo, "A Morte de uma Virgem", "A Rosa e o Sol" e "Qual Delas?". Segue a magistratura e é eleito deputado provincial no Rio Grande do Sul, mas consegue remoção para a comarca de Jeremoabo (BA) no ano seguinte, quando começa a sentir o organismo definhando em conseqüência do mal de que só muito mais tarde se apercebe e que iria vitimá-lo.

 

Em busca de tratamento para a tuberculose, procura o clima de Ilhéus (BA), sem nada conseguir. Esteve, depois, nas cidades de Serro e Diamantina (MG), em busca de repouso e paz sob o clima das montanhas, também em vão. Afinal, a conselho médico, parte para a Ilha da Madeira, aonde não chega a aportar e falece a bordo do navio, próximo a Lisboa, Portugal.

 

 

 Estilo literário

 

Calasans publicou seus dois primeiros livros no tempo em que estudava no Recife, tendo saído o segundo ("Últimas Páginas") numa viagem que fez a Niterói (RJ). São ambos de caráter Ultra-romântico, mas nos quais o crítico Sílvio Romero já distingue "o realismo da cidade, da gente culta, dos salões civilizados, das altas classes", embora esse realismo esteja mais evidente em "Wiesbade", caracterizado como "uma das mais interessantes produções da romântica brasileira".

 

Em "Wiesbade" estão nítidos os traços de realismo fantástico que culminam com a decadência da sociedade elegante de jogadores nessa estação alemã. Embora propusesse a dissolução da estrutura melódica na utilização de versos sem rimas, o poeta tenta, pela primeira vez no país, observa Fausto Cunha, "a inspiração cosmopolita, recheada de vocabulários estrangeiros", e isso não como sinal de dependência à poesia européia, mas por haver "a consciência de nação em pé de igualdade", esclarece.  Fonte da biografia: Wikipédia.

 

 

Obras: Poesia (1853), Adeus! (1855), Páginas Soltas (1858), Últimas Páginas (1864) – Ofenísia (1864) Wiesbade (1867), A Morte de Uma Virgem  (1867) A Rosa e o Sol (1867) Qual Delas? (1870), Brazilina (1875), Camerino: episódio da guerra do Paraguai (1881), As Flores de Laranjeira (1900), Waterloo (1906) A Cascata de Paulafonso.

 

I

A um menino

 

         Na maciez do alvo braço,

         De tua mãe no regaço

         Dormes¹, infante, a sonhar;

         Teu sonho é plácido e liso

         Que um angélico sorriso

         Te vem nos lábios pairar.

 

         Dormiste aos beijos maternos;

         Entre carinhos tão ternos

         Como é doce o teu dormir!

         Quando acordares sorrindo,

         Verás o semblante lindo

         De tua mãe a sorrir.

 

         Dorme em sossego, menino,

         Pois no livro do destino

         Tens um destino feliz,

         Dorme em completo abandono,

         Dourado seja o teu sono

         Dos sonhos pelo matiz.

 

II

 

Lágrimas e amores

 

         Quando no espaço bruxoleia a aurora,

         Mandando à terra divinais palores,

         O doce orvalho, que nos campos chora,

                   São lágrimas e amores.

 

         Nas frescas tardes, nas manhãs de maio,

         Que aqui renascem, que ali brotam flores,

         Quando chorarem, o seu pranto amai-o,

                   São lágrimas e amores.

 

         Amai-o; as flores também têm segredos,

         Sim, vivem, morrem, têm sorriso e dores;

         Vede esse pranto, decifrai enredos,

                   São lágrimas e amores.

 

         Quando, transpondo do horizonte a corda,

         O sol se despe dos gentis fulgores,

         Brancas estrelas de que o céu se borda,

                   São lágrimas e amores.

 

         Quando na campa, que o cipreste esguio

         Com a sombra cobre de enlutadas cores,

         Chorarem brisas, que acordou o estio,

                   São lágrimas e amores.

 

         Quando o arco-íris lá no céu se arqueia;

         Para, chovendo, refecer calores,

         Esses gotejos por que o sol anseia,

                   São lágrimas e amores.

 

         Quando, por noites de luar ameno,

         O céu se esmalta de cem mil primores,

         Esses rorejos do sutil sereno

                   São lágrimas e amores.

 

         Quando branquejam, de manhã, neblinas,

         Cobrindo os campos, o que são? – vapores,

         Que o pranto gera das canções divinas,

                   São lágrimas e amores.

 

         Cristáleas águas, que o Amazona atira

         Nas nossas terras a trajar verdores,

         E os sons cadentes, que eu na mata ouvira,

                   São lágrimas e amores.

 

         As níveas pérolas de nitente alvura,

         Que a fonte clara salpicou nas flores,

         Serão segredos de amorosa jura?

                   São lágrimas e amores.

 

 

III

 

Escuta

 

         Se para amar-te for mister martírios,

         Com que delírios saberei sofrer!

         Se de altas glórias for mister a palma,

         Talvez minha alma possa além colher.

 

         Quebrar cadeias, conquistar um nome,

         Que não consome o perpassar das eras;

         Arcar com a fúria de iracundos nortes,

         Sofrer mil mortes, sem morrer deveras;

 

         Nas próprias carnes apertar cilícios,

         Nos sacrifícios ter sereno o rosto;

         Pisar descalço sobre espinhos duros,

         Com pés seguros, com sinais de gosto;

 

         Longe da pátria, no país mais feio,

         De tédio em meio, para amar-te, irei

         Viver embora sob a zona ardente,

         E ali contente por te amar serei!...

 

         E a ser amado, se é mister o incenso,

         Que sobe denso dos salões aos tetos;

         Serei altivo, mas não vou de rastos,

         Com lábios castos mendigar agetos!

 

         E se me odeias, por não ir-me às salas

         Dizer-te as falas de mendaz paixão,

         E, aos olhos de outros, profanando extremos,

         Dizer-te: amemos, e apertar-te a mão;

 

         Me  odeia, e muito, que eu não sou da farsa,

         Que o mal disfarça, que desfruta e ri!

         Me odeia, e sempre, que eu não desço ao nível

         Do pó terrível, que se arraste aí!

 

         Dá-me o teu ódio, pois não quero – escuta –

         Beber cicuta, procurando mel,

         Dá-me o teu ódio, mas num grau subido,

         Embora ungido de amargoso fel!

 

         Dá-me o teu ódio por fatal sentença

         A indiferença me será pior.

         Que um sentimento por mim sintas n’alma,

         Dá-me essa palma de um sofrer melhor!

 

 

IV

 

Para o álbum de uma senhora

 

         Fora inútil pedir mimos à dália,

         Perfumes ao jasmim, nos céus da Itália

         Da mais nítida estrela a luz buscar.

         Fora inútil trazer incenso arábio,

         Ou sorrir divinal de fresco lábio

         Das mimosas gentis, netas de Agar.

 

         Fora inútil na página, que escrevo,

         Veroneso traçar sutil relevo,

         Pintando imagens de celeste alvor.

         À Golconda pedir belo diamante,

         E um lindo verso, que escrevera o Dante,

         Fora inútil buscar e aqui depor.

 

         Fora inútil pedir às Sorrentinas

         Uma nota sequer das cavatinas,

         Que elas cantam de amor, meu Deus, tão bem!

         Que eu deponho-te aqui maior tesouro,

         Que as riquezas de ofir, que o próprio ouro,

         Que o rico solo do Brasil contém.

 

         E o tesouro, hás de ver, é um nome santo,

         Como dos olhos maternais um pranto,

         Nas horas de partir, valendo o adeus.

         Tão doce como as moles serenatas,

         Como o som murmurante das cascatas,

         Ou qual prece infantil, que sobe a Deus.

 

         E esse nome, hás de ver, mais puro e belo,

         Que do insonte cordeiro o branco velo,

         Dos sacrifícios, que na Bíblia eu li,

         É doce como o cântico de uma ave,

         Mais doce que do Himeto o mel suave

         Em taça de ouro da mais linda huri.

 

         E esse nome, hás de ver, tem mais poesia,

         Que os sons acordes, que David tangia,

         Quebrando as iras do feroz Saul.

         Mais belo do que o sol dourando os bosques,

         Do que a lua a bater sobre os quiosques

         Da soberba e gentil, mole Istambul.

 

         E esse nome apurado em mil aromas,

         Que recenderam das ambrósias comas

         Da virgem, que por mãe Cristo escolheu:

         Esse nome melhor que um beijo helênico,

         Mais mimoso e melhor que um riso edênico,

         Esse nome, Maria, é o nome teu!

 

 

V

 

A filha da harmonia

 

         Se tinhas o palor das santas virgens,

         Nos lábios o aromar dos nenúfares;

         E se tinhas no olhar divas centelhas.

         Se Deus no olimpo te daria altares;

         Como, pois, não te amar, rojado às plantas,

         Não morrer a teus pés, ouvindo os trilos

         De tua doce voz, que antes ouvi-los

         Que ouvir os salmos de harmonias santas?!

 

         Filha dos sonhos, divinaste o canto,

         Que o Verdi traduziu do fundo d’alma.

         A própria Malibran cedera a palma,

         Louca escutando de tal voz o encanto.

         Ai não cantes assim! tem tal magia

         A tua meiga voz, que eu renegara,

         Somente para ouvir-te, o sol do dia,

         Que as estradas do céu de luz aclara;

         E cego de ambição me arrojaria

         No caos trevoso da descrença ignara!

         Ai não cantes assim! tem tal poesia

         A tua meiga voz, que f’licidade

         Fora, ao certo, gozar da eternidade

         Ouvindo um cisne descantando amores,

         Ai não cantes assim! mulher querida,

         Pálida imagem do viver das flores!

         Que de ouvir-te a harmonia, esqueço a vida,

         Esqueço a liberdade e o pranto e as dores,

         E os céus e os homens e o dever e a lida!...

 

VI

 

As flores das laranja

 

         Cada flor tem de certo vária sorte,

                   Tem diverso condão:

         Há flores para ávida e para a morte,

                   Que dizem sim, ou não.

 

         Há flores para as mágoas da ansiedade,

                   Para os sonhos de amor,

         Há flores para as cismas da saudade,

                   Há também para a dor.

 

         Há flores que só vingam no chão frio

                   Da fria sepultura,

         Borrifadas das lágrimas a fio,

                   Que chora a desventura.

 

         Há flores que só crescem no retiro

                   De amiga solidão;

         Uma flor diz um aí, outra um suspiro,

                  Todas têm seu condão.

 

         Esta vai perfumar as lindas jarras

                   Dos altares radiantes;

         Aquela ser de amor propícias arras

                   No peito dos amantes.

 

         Ali – campeia altiva uma fronte

                   Do bravo que venceu;

         Acolá – sobre a face bela, insonte,

                   Da virgem que morreu

 

         Além – sobre os degraus do capitólio,

                   Nos penetrais da glória;

         Aquém – cobrindo o desditoso espólio,

                   De um gênio, e a sua história!

 

         Cada flor tem de certo vária sorte,

                   Tem diverso condão:

         Há flores para a vida e para a morte,

                   Que dizem sim, ou não.

 

         Mas de todas as flores mais felizes

                   As que têm melhor sina,

         Não são as rosas, nem jasmins, nem lises,

                   Nem dálias, nem bonina.

 

         As flores de laranja mais ditosas

                   Que as outras flores são:

         Têm mais poesia, têm! São mais cheirosas,

                   Tem mais inspiração!

 

         As flores de laranja se entrelaçam,

                   Na virginal capela!

         De perfume suavíssimo repassam

                   O seio da donzela!

 

         Das essências de amor sublime extrato,

                   Sublime é o condão seu:

         Fê-las Deus para honrar o doce pacto

                   Do sagrado himeneu.

 

 

         Por isso eu amo a flor de laranjeira

                   Da donzela na coma,

         Ou então quando a brisa passageira

                   Me traz seu doce aroma.

 

         Amo a flor de laranja, quando a avisto

                   Num seio de mulher!

         Quando a noite me toma de imprevisto,

                   ou d’alva o rosicler.

 

         Amo-a, quando a donzela meiga a esfolha

                   em pura distração,

         Ou  com o pranto dos olhos seus a molha,

                   abrindo o coração.

 

            No teu álbum, portanto, eu quis as flores

                   De laranja depor:

            Síntese bela de ideais amores,

                   Dos amores a flor.

 

         E a tua mão, formosa Terezinha,

                   Que mil graças esbanja,

         Aceite a triste, a pobre oferta minha

                   De flores de laranja

 

 

 

1 No original,/dermes/em lugar de/dormes/:cochilo tipográfico corrigido à vista da versão publicada em ÚLTIMAS Páginas (1858), do autor (JSL).

 


Poemas extraídos da obra PARNASO SERGIPANO – Edição Comemorativa, de SÍLVIO ROMERO, organizada por Luiz Antonio Barreto. Rio de Janeiro: Imago Edl; Aracaju, SE: Universidade Federal de Sergipe, 2001. 516 p.  ISBN 85-312-0778-9

 

Página publicada em novembro de 2009

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