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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JOSÉ SAMPAIO


José de Aguiar Sampaio nasceu no dia 2 de maio de 1913, na antiga vila do Carmo, agora Carmópolis, Sergipe e morreu de câncer, em Aracajú, em 30 de abril de 1956.

Filho de Gaspar Leite Sampaio e de Dona Honorina de Aguiar Sampaio. Anos depois fora morar em Riachuelo com a família, passando a trabalhar na empresa de tecidos dos seus tios, Aguiar & Irmãos, época em que o poeta contribuiu em pequenos jornais daquela cidade, escrevendo seus primeiros poemas.

No período de 1932 a 1934, José Sampaio fora viver no município de Capela, exercendo ainda as atividades profissionais no comércio dos seus tios.

Em 1934, José Sampaio foi morar na capital sergipana, e lá fez amizade com a geração de jornalistas e intelectuais que contribuíam nos meios culturais e artísticos, e rodas literárias. Tratava-se da época em que ele teve uma vida boêmia, frequentando bares e cabarés. Participa de jornais estudantis, pondo sua poesia a serviço das causas sociais, liderando os jovens intelectuais sergipanos e estudantes que combatiam a ditadura do Estado Novo, o Integralismo, e a censura dos meios de comunicação.
Os jornais aracajuanos e as revistas deram espaço para a publicação dos poemas de José Sampaio, considerando-o “O Poeta dos Humildes”. Sua poesia contém a liberdade com relação à forma tradicional, produzida em linguagem coloquial. Trata-se de textos engajados nas questões sociais, mostrando uma preocupação com o povo, as desigualdades, a miséria, a decadência, e o vício. Caracterizada por uma reafirmação do mundo como imagem com profundo sentimento humano e angústias da alma.

Em 1938, José Sampaio colaborou na Seiva, revista baiana ligada ao Partido Comunista.

José Sampaio casou com a poetisa Jaci Conde Dias, de Itaporanga D’Ajuda, com quem teve dois filhos e eles se mudaram em fins dos anos de 1940 para Feira de Santana (BA), assumindo um armarinho que comprara. Anos depois, o poeta contraíra um câncer, indo à procura de tratamento no Rio de Janeiro e em São Paulo. Não resistindo à doença, o “Poeta dos Humildes” morrera no dia 3 de abril de 1956, sendo sepultado no Cemitério de Santa Isabel. Sua obra fora publicada em livros postumamente.

Fonte da biografia: http://literaturasergipana.blogspot.com/

 

 

       O CURRAL

 

                São pequeninas casas espremidas
num inconsciente abraço de miséria.
É de se crer que foram construídas
por centenas de braços cadavéricos
e cérebros doentes.
Tanto assim que o “Curral” vive agachado
numa faixa de terra doentia.
À noite aquelas casas decadentes
são como um batalhão de seres hediondos
vestindo a farda suja da fome...

 

        O “Beco do Veneno no “Curral”
é uma rua povoada de gemidos
como um monstro horrendo.
Não é a rua dos mestiços
nem de pretos,
nem de pobres.
É uma rua de miseráveis,
dos aleijados de doenças.
Dos que um dia enlouqueceram,
divertiram a cidade
e chegaram depois
pelos braços de um mendigo generoso.

 

        No “Curral” os que não podem caminhar
ficam agachados nos batentes.
E aos que passam por acaso
estiram a mão de dedos de graveto
como um calado grito de socorro.
Perdem depois o movimento
e ficam como cadáveres.

 

        O “Curral” é o cemitério dos vivos.

 

                [1935]

 

 

 

       CANTO DO NEGRO MORTO

 

            Um arrepio na noite...
De repente,
um homem morto na rua.

O rosto permanece vivo das suas palavras.
Dos cantos dos olhos descem dois grandes rios.
Onde irão parar esses rios de tão intensa alvura?

           
As mãos do negro abertas para o ar,
cheias somente da noite.

As manchas vermelhas na calçada
são as únicas rosas que florescem
em torno do seu corpo...

O vento da noite, debalde,
tenta gelar o coração da companheira
onde o negro muito antes da morte
acendeu uma estrela...

 

            Os filhos do morto procurarão o pai e um dia
o encontrarão, amanhã ou mais além.

 

            A noite conduz um recado no lombo do vento.
E a cidade se alarga.
As mãos abertas para o ar
esperam a madrugada.

 

                                    [1952]

 

 

 

A REVOLUÇÃO DAS RUÍNAS

 

O rumor que veio desta lembrança

amedrontou meu silêncio.

No meu modo de ver, pelo menos agora,

as ruínas se revoltaram debaixo dos edifícios novos.

São lembranças estranhas

de tudo que ficou debaixo do mais forte.

Há um sofrimento infinito nestes seres pisados,

mas não há choro nesse clamor subterrâneo.

As grandes dores

geram a alegria trágica do ódio.

É a decadência querendo levantar-se

para ressuscitar

na glória de suas causas de palha,

na felicidade dos seus homens brutos

e na alegria de sua antiga liberdade.

Geração que foi enterrada

querendo romper o túmulo dos arranha-céus

para apagar

todas as luzes da civilização.

A luta rasteirado que caiu

para nunca mais levantar.

Revolução infeliz,

tão infeliz que não morre

para viver das derrotas.

Luta impossível

contra o indiferentismo do tempo

e a ironia espontânea do progresso.

Meu pensamento, agora,

é a lembrança estranha

deste profundo anseio de liberdade

que estremece a cova das ruínas.

 

[1936]

 

 

C A N T O

 

Se todos ficarem contra mim

eu continuarei amando a poesia e a beleza.

 

Se todos me abandonarem

eu direi que são puras as mulheres perdidas dos becos

 

Podem todos ferir-me:

— eu direi que são claros os olhos das crianças negras.

 

Podem todos ferir-me.

Como poderei dizer que não amo a claridade da aurora?

 

[1939]

 

        

         H O M E M

 

 

       Cede o lugar em ti da inércia e covardia
A um desejo sem freio de escalar os espaços.
Sonda a terra e o céu, sonda a noite e o dia.
Tira a nuvem de pó que traz teus olhos baços.

 

        Luta que vencerás. Medita nos teus passos...
Desvenda sóis e céus, estuda, inventa, cria...
Anda. Busca prender na curva dos teus braços
Os mistérios do mar, da flor, da ventania.

E surgem ao teu olhar a verdade desnuda,
Estranhas solidões, estrelas, alvoradas.
Desvendam-se outros céus e fala a treva muda.

 

        E a tristeza há de vir coroar teu valor.
Descobrirás entanto em íntimas risadas,
Dentro da própria mágoa a beleza do ser.

 

                                [ 1933]

 

 

Página publicada em janeiro de 2020

 

 

 


 

 

 
 
 
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